Gigantes petrolíferas em encruzilhada: e se as reservas de óleo cru se esgotarem?

As empresas petrolíferas estão começando a sentir a pressão do movimento ecologista para se afastarem dos combustíveis fósseis. Que rumo as organizações podem tomar com o avanço da energia verde?
Sputnik

A ideia de que a humanidade deve mudar dos combustíveis fósseis para fontes renováveis de energia não é nova, pois foi previsto há décadas que os recursos se tornarão muito mais difíceis de obter em algum momento. No entanto, até agora esses medos não se concretizaram.

Apesar do desenvolvimento contínuo das tecnologias de extração de petróleo, a tendência para encontrar uma nova fonte de energia verde renovável e competitiva tem estado no topo da agenda nos últimos anos, uma vez que ativistas ecológicos como Greta Thunberg têm pressionado fortemente para que se abandone os combustíveis fósseis.

Ao mesmo tempo, até as previsões mais otimistas preveem que o pico da demanda de petróleo cru poderá vir daqui a 20 anos, e a partir daí começará a diminuir, uma vez que os poços de petróleo relativamente baratos começarão a se esgotar globalmente.

Estes fatos, se e quando acontecerem, farão com que as empresas petrolíferas pensem nas suas perspectivas no mercado e em como manter sua cota em um mundo de combustíveis pós-carbono, acredita Aleksandr Sobko, analista de mercados energéticos da Escola de Negócios Skolkovo.

Empresas dos EUA

No entanto, estas empresas vão a níveis diferentes, à medida que tentam descobrir seu lugar em um futuro sem combustível hidrocarbônico barato.

Todas as empresas de energia estão investindo em diferentes tipos de energia verde, como painéis solares ou parques eólicos, mas seus investimentos variam entre 1% e 15% dos investimentos de capital, sendo 3% o nível médio.

Gigantes petrolíferas em encruzilhada: e se as reservas de óleo cru se esgotarem?

 

As empresas petrolíferas norte-americanas, como a ExxonMobil e a Chevron, investem a menor quantidade de dinheiro no desenvolvimento de fontes de energia verde. Em vez disso, estas empresas escolheram outro caminho para resolver o problema do declínio dos lucros dos poços de petróleo típicos, como aponta Sobko. As companhias escolheram vender seus ativos globais e se concentrar na perfuração de petróleo e gás de xisto nos EUA.

O analista sublinha que este óleo cru pode, por vezes, ser mais barato do que o que é extraído dos poços offshore. Além disso, os ciclos de investimento nos poços de petróleo de xisto são muito mais curtos do que os da perfuração offshore, o que é mais lucrativo para as empresas de energia, acrescenta o especialista.

Empresas europeias

Por outro lado, as companhias europeias, como a Shell e a Total, investem muito nas fontes renováveis de energia, cumprindo o endosso político da UE rumo a uma eventual mudança completa para energia verde, diz Sobko. Até essa mudança ocorrer, porém, essas companhias estão concentrando-se no gás como o combustível fóssil menos poluente de todos, uma chamada fonte de energia de transição.

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A Total tem 50% de seus ativos dedicados à extração de gás e investe fortemente em projetos de gás natural liquefeito em todo o mundo, mas a companhia também assinou um contrato com a Peugeot para investir na criação de baterias para carros elétricos considerados menos poluentes.

Com tudo isso em mente, Sobko salienta que os lucros dos projetos da indústria de energia verde ainda permanecem baixos, especialmente em comparação com os do setor petrolífero, que proporciona altos retornos enquanto os preços do petróleo cru permanecerem relativamente altos. Estes últimos, contudo, não são necessariamente algo adquirido, pois dependem de vários fatores, desde a taxa de oferta/demanda até aos acordos da OPEP+.

Obstáculos às energias renováveis

As próprias fontes de energia verde ainda estão repletas de problemas que impedem sua utilização em massa, principalmente na eficiência dos painéis solares, que são altamente dependentes do clima e do ciclo diurno e noturno, e com sua própria produção requerendo muita eletricidade e uso de produtos químicos tóxicos.

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Os parques eólicos, por sua vez, são criticados pelo barulho que geram e pelos danos potenciais à ecologia decorrentes da sua construção, especialmente porque tomam uma grande quantidade de terra para gerar qualquer quantidade substancial de energia.

Sobko resume que diferentes empresas de energia se preparam para o há muito previsto fim dos combustíveis fósseis com diferentes velocidades. Ele argumenta que o assunto ainda não é urgente, e que elas têm tempo para decidir para onde seguir no mundo pós-carbono, mas acrescenta que está na hora de pelo menos começar as discussões sobre o tema.

O analista afirma ainda que, de qualquer forma, a transição de uma fonte de energia para outras não será tão rápida quanto Greta Thunberg sugere, mas sim gradual e lenta. Caso contrário, alerta, isso apenas provocará um déficit de petróleo e demais consequências subjacentes.

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