'Força militar mais dinâmica': Noruega vê ameaça nas novas 'superarmas' da Rússia

Segundo o chefe do Serviço de Inteligência Norueguês, Morten Haga Lunde, o Kinzhal, um dos novos mísseis da Rússia, pode potencialmente atingir um alvo na Noruega com pouco tempo de alerta.
Sputnik

O Focus 2020, uma avaliação dos desafios de segurança enfrentados pela Noruega preparada pelo Serviço de Inteligência Norueguês (E-Tjenesten), destacou a Rússia e a China como os principais fatores que influenciam o atual quadro de ameaças e os interesses noruegueses.

"Os serviços de inteligência russos e chineses intervêm em todos os setores da sociedade nestes países. Esta não é uma fase transitória", disse o tenente-general Morten Haga Lunde, chefe do E-Tjenesten, citado pela emissora nacional NRK. Ele afirmou ainda que, apesar das suas diferenças, tanto a Rússia como a China estão avançando em uma direção mais "autoritária".

Lunde apontou que a Rússia fortaleceu as suas estruturas na península de Kola e na parte norte do mar de Barents. Entre outras coisas, Lunde salientou que a Rússia está realizando exercícios militares, como o Escudo do Oceano, e desenvolvendo sistemas de armamento cada vez mais sofisticados, como o Avangard, que o presidente russo Vladimir Putin descreveu como capazes de tornar os sistemas de defesa dos EUA ineficazes.

No seu relatório, E-Tjenesten indicou que Putin apresentou seis novos sistemas de armamento no seu discurso anual à nação em 2018, incluindo o míssil intercontinental RS-28 Sarmat, que é referido como o maior míssil nuclear do mundo.

"Vários deles têm características especiais e não se enquadram nas categorias de armas estabelecidas. Tanto o desenvolvimento de armas como os exercícios mostram que a Rússia está desenvolvendo uma força militar mais dinâmica", sublinhou Lunde. "Estamos testemunhando uma força militar capaz de operar em qualquer situação".

Influência da Rússia e China

De acordo com Lunde, algumas das novas "superarmas" foram testadas em áreas em torno da Noruega. Lunde está preocupado com o fato de elas ficarem fora dos atuais tratados de desarmamento, alterando assim a estabilidade internacional.

"Observamos testes do míssil balístico Kinzhal, uma das novas armas, lançado por via aérea. Nossos cálculos mostram que, se este míssil for disparado de uma aeronave sobre a península de Kola, o tempo de alerta (quando detectamos a atividade) será de cerca de 40 minutos desde a partida da aeronave até o ataque do míssil a um alvo na Noruega", disse Haga Lunde.

"A Noruega está isolada no mundo? Não. A Noruega faz parte do sistema globalizado e do sistema ocidental. Estas armas representam uma ameaça para a Noruega. Existe o perigo de a Noruega ficar atrás das linhas russas e, com o aumento da capacidade, se torna difícil evitar isso", sublinhou Lunde.

O ministro da Defesa, Frank Bakke-Jensen, sugeriu que os exercícios militares da Rússia ao largo da costa da Noruega têm sido demasiado próximos.

"Creio que é desnecessário. A boa vizinhança exige que ambas as partes prestem atenção uma à outra. Eu tenho expressado insatisfação com algumas das atividades de exercício da Rússia ultimamente", disse Bakke-Jensen referindo-se às manobras da Rússia no mar de Barents.

Nos últimos anos, as relações bilaterais russo-norueguesas têm se tornado mais difíceis em meio a acusações recíprocas de espionagem. A Noruega está enervada com a modernização das Forças Armadas russas no norte, que considera enérgica, e a Rússia está alarmada com a cooperação em larga escala da Noruega com os EUA e seus aliados da OTAN, incluindo os radares polares em Vardo e o destacamento marítimo dos EUA, que vê como provocações.

'Força militar mais dinâmica': Noruega vê ameaça nas novas 'superarmas' da Rússia
Sobre a China, Morten Haga Lunde sublinhou que o país pretende estar militarmente em pé de igualdade com os Estados Unidos até 2050. Ao mesmo tempo, ele alertou para a nova iniciativa da Rota da Seda Digital, que significaria que a China tentaria tomar o controle de partes da rede 5G.

"Isto fortalece a ambição e a capacidade de inteligência da China. O significado disto dificilmente pode ser sobrestimado", sublinhou Lunde.

Outras conclusões

O relatório do E-Tjenesten é uma das quatro avaliações de ameaças apresentadas anualmente na Noruega, sendo as outras do Serviço de Segurança Policial (PST, na sigla em norueguês), da Autoridade de Segurança Nacional (NSM, na sigla em norueguês) e da Direção de Proteção Civil (DSB, na sigla em norueguês).

O PST apresentou sua avaliação anual de ameaças na semana passada, concentrando-se pela primeira vez nos extremistas de direita e nos islamistas radicais. Além da violência politicamente motivada, o PST também destacou a inteligência patrocinada pelo Estado, o mapeamento digital e a sabotagem de infraestruturas críticas como as ameaças mais graves para a Noruega. Pela primeira vez, o Irã também foi mencionado explicitamente a este respeito.

"Embora as atividades da inteligência russa, chinesa e iraniana sejam consideradas como tendo o maior potencial de danos, as atividades secretas de outros países também podem prejudicar a Noruega, empresas e indivíduos noruegueses", disse a avaliação da ameaça.

 

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