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Analista traz à tona 'processo de punição' executado por Brasil e EUA contra Argentina

Em seguimento à retirada unilateral norte-americana da Argentina da lista dos países em desenvolvimento, EUA e Brasil estariam unidos em um plano punitivo contra Buenos Aires.
Sputnik

O perigo surge na sequência de uma medida tomada em 12 de fevereiro pela administração de Donald Trump, que é tida como mais um episódio na guerra comercial que os EUA vêm movendo contra a China.

A decisão surge em uma época em que a China se debate com o coronavírus e em que a epidemia já está afetando seriamente a economia chinesa, a ponto de paralisar boa parte de sua produção e refrear o consumo.

Miguel Ponce, diretor do Centro para o Comércio Exterior do Século XXI, afirmou à Sputnik Mundo que, ao não considerarem mais a China e a Índia como países em desenvolvimento, "com essa desculpa caem Argentina e Brasil".

A nova lista de Washington não coincide com a existente na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde cada país define o seu estatuto. É por essa razão que a China surge em termos de OMC como país em desenvolvimento o que lhe permite subsidiar os seus setores produtivos até um determinado nível.

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Assim, os países em desenvolvimento ganham competitividade em relação aos países desenvolvidos. Por isso, os EUA têm exigido mudanças da OMC para acabar com a situação.

Por tal motivo, os EUA decidiram catalogar unilateralmente os países em desenvolvimento. Em sequência, para os Estados Unidos países como China, Índia, África do Sul, Colômbia, Argentina, Brasil, Costa Rica, Ucrânia, Bulgária e Romênia, entre outros, não serão mais considerados países em desenvolvimento e deixarão de ter acesso a benefícios na hora de exportar para os Estados Unidos.

Impacto local

"Colômbia não sofre com isso porque é taxada a 0% em tudo graças ao Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos", disse Ponce.

"Mas a Argentina e o Brasil poderão sofrer consequências" ao verem removidos os subsídios existentes à exportação para a principal potência mundial, tendo muitos industriais brasileiros já expressado seu descontentamento sobre a decisão da Casa Branca.

A respeito, Ponce lembrou que o anúncio feito no final de 2019 pela administração Trump de impor tarifas às importações de alumínio e aço da Argentina e do Brasil não foi implementado na prática até agora, afirmando que algo de semelhante poderia acontecer com a nova disposição.

Analista traz à tona 'processo de punição' executado por Brasil e EUA contra Argentina

Na prática, até hoje, não entrou em vigor e não me surpreenderia que, como Trump nos habituou, a questão comercial seja uma variável, uma ferramenta para fazer manobras políticas e eleitorais", afirmou Ponce.

Para o especialista argentino em comércio exterior, Brasil e EUA estão ambos "em um processo de punição em relação ao nosso comércio exterior que é muito evidente. Devido às diferenças ideológicas e políticas em termos de América Latina e, em particular, da Venezuela, o Brasil deixou de comprar-nos 750.000 toneladas de trigo, que importa agora dos Estados Unidos. Obviamente, isso nos afeta diretamente".

Além disto, estando a decorrer o processo de renegociação da dívida externa com o Fundo Monetário Internacional e credores privados, a notícia de a Argentina ser um "país desenvolvido" poderia ter um impacto negativo sobre os investimentos, continuou Ponce.

Mais um episódio da guerra comercial sino-americana?

O diretor do Centro de Comércio Exterior do Século XXI vê nesta decisão americana mais um episódio da guerra comercial sino-americana.

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Para agravar ainda mais a situação, a China praticamente parou o seu comércio externo, arrefeceu o seu consumo interno e o seu processo de produção. "Isto significa que muitos dos grãos que estávamos pensando em colocar [no mercado] dos que não podemos vender ao Brasil, também não podemos os colocar na China", acrescentou Ponce.

Ponce, que também foi subsecretário da Indústria e Comércio da Argentina, concluiu que "este tipo de situação não ajuda à unidade da região", sendo da opinião que, no final, o próprio Trump vai escolher quem será beneficiado ou prejudicado – tudo dependendo do alinhamento em relação à política norte-americana para a Venezuela, Bolívia e Cuba.

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