Hackers podem tomar conta dos satélites e transformá-los em armas, segundo analista

Mais de 62 anos após o lançamento pela URSS do Sputnik-1, o primeiro satélite artificial, são inúmeros os satélites meteorológicos, militares e de comunicações que orbitam a Terra.
Sputnik

Contudo, estes aparelhos espaciais são controlados em terra a partir de computadores.

Inúmeras vulnerabilidades

William Akoto, cientista político da Universidade de Denver, EUA, alerta em estudo publicado no portal Theconversation que a existência de vulnerabilidades no software de controle dos satélites poderia ser explorada por hackers.

Ou seja, "se os hackers se infiltrassem nesses computadores, eles poderiam enviar comandos maliciosos para os satélites e apoderarem-se deles".

Akoto dá como exemplo a empresa SpaceX, que em janeiro último se tornou a maior operadora de satélites, com 242 unidades em órbita.

A SpaceX planeja lançar 42.000 novos satélites durante a próxima década como parte de um projeto de fornecimento de acesso à Internet em todo o mundo.

Akoto chama a atenção para o fato de as debilidades de software, aliadas à falta de normas e regulamentos de segurança cibernética para satélites comerciais, nos EUA e em outros países, os deixar altamente vulneráveis a ataques cibernéticos, tanto mais que muitos dos componentes usados nos satélites recorrem à tecnologia de código aberto.

"Esses ataques poderiam se traduzir no bloqueio de funcionamento dos satélites, negando o acesso aos seus serviços", disse.

Os hackers também poderiam bloquear ou falsificar os sinais dos satélites, gerando o caos por exemplo em redes elétricas, de água e sistemas de transporte.

Por outro lado, refere Akoto, "os satélites têm propulsores que lhes permitem acelerar, desacelerar e mudar de direção no espaço".

"Se hackers assumissem o controle desses satélites eles poderiam alterar suas órbitas e fazê-los colidir com outros satélites ou mesmo com a Estação Espacial Internacional", alertou o cientista político.

A natureza altamente técnica destes satélites implica o envolvimento de vários fabricantes. O próprio processo de lançamento envolve múltiplas empresas. Mesmo já no espaço, os proprietários dos satélites frequentemente terceirizam a sua gestão.

Todos estes fatores também aumentam as hipóteses de os hackers se infiltrarem no sistema.

História de hackeamento de satélites

De acordo com Akoto, em 1998 hackers assumiram o controle do satélite ROSAT X-Ray, lançado em parceria pelos EUA e a Alemanha. Eles hackearam os computadores que o controlavam, no Goddard Space Flight Center, em Maryland, EUA.

De seguida, enviaram comandos ao satélite para que este apontasse seus painéis solares diretamente para o Sol, queimando-os completamente e, dessa forma, inutilizando o aparelho espacial, que viria a cair na Terra em 2011.

Em 1999, hackers assumiram o controle dos satélites da SkyNet do Reino Unido, os mantendo como reféns.

Em 2008, hackers teriam assumido o controle total de dois satélites da NASA, um por cerca de dois minutos e o outro por cerca de nove minutos.

Ainda segundo Akoto, em 2018, outro grupo de hackers, chineses, lançou uma sofisticada campanha de hacking destinada a operadores de satélites e empresas militares. Grupos de hackers iranianos também terão tentado ataques similares.

Segurança cibernética espacial é urgente

O cientista político alerta que, malgrado o Departamento de Defesa e a Agência de Segurança Nacional dos EUA terem feito alguns esforços em matéria de segurança cibernética espacial, o ritmo tem sido lento.

Continua a não haver padrões de segurança cibernética para satélites e nenhum órgão governamental para regular e garantir sua segurança.

Isto significa que a responsabilidade pela cibersegurança dos satélites cabe às empresas privadas que os constroem e operam.

Ora, estas empresas, sob pressão da concorrência, cortam custos para se tornarem mais competitivas, podendo tal afetar igualmente a cibersegurança.

"O problema reside no fato de, por exemplo, em certas missões espaciais, o custo de garantir a segurança cibernética poder exceder o custo do próprio satélite", salienta Akoto.

Por outro lado, a complexa cadeia de fornecimento destes satélites e as diversas partes envolvidas na sua gestão significam que não fica claro quem deveria assumir a responsabilidade por violações cibernéticas.

Por isso, Akoto defende uma legislação clara sobre quem deve assegurar a segurança dos satélites e quem tem responsabilidade por eventuais ataques cibernéticos.

"Quaisquer que sejam os passos dados pelo governo e pela indústria, é imperativo agir agora. Seria um erro profundo esperar que os hackers ganhassem o controle de um satélite antes de abordar esta questão", concluiu William Akoto.

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