"Dois anos é tempo demais de espera. A falta de resultados concretos na identificação dos autores intelectuais e das circunstâncias do homicídio que marcou este último ano de investigação é indício de que no Brasil defensoras e defensores de direitos humanos podem ser mortos e esses crimes ficam impunes. O Brasil precisa dar este passo e enviar um recado à comunidade global de que não tolera esse, nem qualquer outro tipo de violência contra as pessoas que se mobilizam pela construção de sociedades mais justas, como Marielle", afirmou Jurema em nota enviada à Sputnik Brasil.
Em 14 de março de 2018, a vereadora do PSOL e seu motorista, Anderson Gomes, foram executados a tiros no Rio de Janeiro. O policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz foram presos acusados de terem cometido o assassinato. Os dois vão a juri popular. A autoria intelectual e o planejamento do atentado, no entanto, ainda não foram esclarecidos.
"Sabemos que as investigações correm sob sigilo necessário, mas transparência não é a mesma coisa que quebra de sigilo. As famílias de Marielle e Anderson e toda a sociedade têm o direito de saber o que tem sido feito e o quanto se avançou nas investigações", disse Jurema.
Amanhecer por Marielle
Os dois anos da morte da vereadora e do motorista seriam lembrados hoje com vários atos e atividades pelo Brasil e pelo mundo. A ameaça do coronavírus, no entanto, alterou a programação e parte das ações foram canceladas.
O Instituto Marielle Franco, que realizaria um dia de ações na região portuária, trocou a agenda presencial por um movimento chamado Amanhecer por Marielle e Anderson, no qual a entidade pede para apoiadores pendurarem girassóis, faixas, lenços e panos amarelos em janelas, lajes e varandas, além de mensagens de solidariedade e cobrança nas redes sociais com a hashtag #JustiçaPorMarielleEAnderson.
A Anistia Internacional alterou ação que inicialmente previa 14 horas de mobilização. Mas manteve a decisão de caminhar por alguns pontos importantes do centro, zona sul e zona norte do Rio de Janeiro com ativistas vestidos de pontos de interrogação e faixas com a pergunta: "Quem mandou matar Marielle, e por quê?".
'Ela é um símbolo de resistência'
Além disso, dez mil adesivos exigindo justiça foram distribuídos por ativistas da Anistia em dez cidades do país: São Paulo, Londrina, Natal, Porto Alegre, Salvador, Belém, Brasília, São João da Boa Vista, Campinas e Dourados.
"Não tem como se furtar de pedir, lutar e clamar por justiça por Marielle, que atuava para construir uma vida melhor para as pessoas. E não dá para ficar parada, sem ir às autoridades competentes, ir a todos os lugares pedir justiça para saber quem e por que mandaram matar Marielle Franco. Vamos continuar com todos os apoios que temos recebido pelo mundo porque hoje ela é um símbolo de resistência para todos, principalmente para as mulheres", disse Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco e diretora do Instituto Marielle Franco.
Federalização do caso
Enquanto pedem por justiça, familiares e apoiadores aguardam decisão sobre a federalização do caso. O julgamento que decidirá se as investigações permanecem com a Polícia Civil e Ministério Público ou seguem para a Justiça Federal foi marcado para 31 de março no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A família de Marielle se manifestou contra a mudança.