Com mais de 17.300 casos e 1.135 mortes até hoje, o Irã tem sido um dos países mais atingidos pela COVID-19, com o vírus afetando não apenas a população em geral, mas também uma grande parte da elite política. Na semana passada, o líder supremo Ali Khamenei disse que havia evidências de que a pandemia poderia ter sido um "ataque biológico".
Um grupo de 101 médicos iranianos escreveu uma carta dirigida aos líderes do Afeganistão, Geórgia, Iraque, Cazaquistão, Quirguistão e Paquistão para que tomassem "medidas imediatas" para destruir "todos os laboratórios biológicos dos EUA" em seus países, em meio a temores de que a pandemia do coronavírus possa ter se espalhado deliberadamente como forma de guerra biológica, informou a Press TV, citando a carta.
"Nós, como grupo de médicos iranianos especializados em doenças infecciosas e pulmonares, asma e alergia, estamos testemunhando que muitos de nossos compatriotas estão infectados com o vírus e, tal como todos os médicos do mundo, estamos tentando dia e noite curá-los e salvá-los", afirma a carta.
"Mas tem havido muitas evidências tanto nos principais artigos científicos do mundo quanto na mídia, citando geneticistas, biólogos e documentos do WikiLeaks, que reforçam a especulação sobre manipulação da COVID-19 em laboratórios biológicos e um ataque biológico dos EUA através do vírus contra países rivais", prossegue a carta.
Os médicos citam como evidência as recentes perguntas feitas pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês Zhao Lijian sobre as origens do vírus e a especulação de que "pode ter sido o Exército dos EUA que trouxe a epidemia para Wuhan".
O presidente norte-americano Donald Trump rejeitou essas alegações na terça-feira (17), chamando-as "falsas" e dizendo que os militares dos EUA "não deram [COVID-19] a ninguém".
Em sua carta, os médicos iranianos acusam os Estados Unidos de terem um histórico de uso de armas biológicas.
EUA e acordos internacionais
Os médicos também sugerem que, dado seu hábito de se retirarem de acordos e tratados internacionais, os EUA poderiam "desafiar" os acordos internacionais destinados a controlar o desenvolvimento de armas biológicas, como o Protocolo de Genebra e a Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, da Produção e do Armazenamento das Armas Bacteriológicas ou Tóxicas e sobre a Sua Destruição, ou simplesmente Convenção sobre as Armas Biológicas.
Na quarta-feira (18), o chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional iraniano, Ali Shamkhani, disse que os Estados Unidos deveriam "responder a inquéritos internacionais sobre o papel dos Estados Unidos na criação e disseminação do coronavírus" em vez de "acusar falsamente o Irã e a China". De acordo com o alto responsável, "jogos de culpas" são a "típica forma dos EUA de escapar à responsabilidade".
Antes, em uma coletiva de imprensa na terça-feira (17), o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, criticou a China por espalhar "rumores estranhos" sobre a responsabilidade dos EUA pelo surto da COVID-19 e alegou que "o vírus de Wuhan é um assassino e o regime iraniano é um cúmplice". As observações de Pompeo seguem as repetidas vezes em que Donald Trump chama ao novo coronavírus "o vírus chinês".
Programa de armas biológicas dos EUA?
Como parte da Convenção sobre as Armas Biológicas, os Estados Unidos estão proibidos de desenvolver, produzir e armazenar agentes de armas biológicas. A Federação de Cientistas Americanos, entretanto, acusou Washington de continuar a experimentar com agentes biológicos "não letais".
Além disso, a Rússia, antigos responsáveis oficiais na Geórgia e a mídia têm repetidamente expressado suspeitas de que o Centro Lugar de Pesquisa em Saúde Pública em Tbilisi possa conter um programa secreto de armas biológicas dirigido pelos militares e empreiteiros privados dos EUA.
Dilyana Gaytandzhieva, uma jornalista de investigação búlgara independente e correspondente no Oriente Médio, relatou de forma extensa um suposto programa militar americano multibilionário.
O laboratório do Pentágono na Geórgia, o Lugar Center de US$ 300 milhões [R$ 1,56 bilhão] foi inaugurado em 2011 e recebeu a atenção tanto de jornalistas como de agências de inteligência, incluindo o FSB da Rússia, que suspeitam que o laboratório tenha estado envolvido na pesquisa de armas biológicas.
Segundo se afirma, o programa inclui laboratórios biológicos financiados pelo Pentágono em mais de duas dúzias de países, incluindo dez países da África, seis do Sudeste Asiático e nove em países em torno do Irã e da Rússia, abrangendo o Iraque, Jordânia, Azerbaijão, Geórgia, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão, Cazaquistão e Ucrânia.
Sanções dos EUA
Os EUA impuseram sanções a três indivíduos e nove entidades na terça-feira (17) por participarem de comércio de petróleo iraniano, uma semana depois de os EUA estenderem por mais um ano as restrições às exportações de petróleo bruto do país.
As sanções, incluindo restrições que impedem a importação de equipamentos médicos, têm colocado grande pressão sobre a reação do Irã ao novo coronavírus. O país enfrenta uma escassez de kits de teste, máscaras de proteção facial e outros equipamentos.
As autoridades iranianas criticaram Washington por sua atitude "adversária e desumana" em relação à situação no Irã. A Rússia, o Uzbequistão, os Emirados Árabes Unidos e a UNICEF enviaram ajuda ao país, enquanto a China apelou aos EUA para que levantassem suas sanções ao Irã "imediatamente".
O chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, sublinhou que as sanções norte-americanas "matam literalmente inocentes" e acrescentou que é "imoral cumpri-las".