O governo interino da Bolívia anunciou um endurecimento do controle policial e militar da quarentena contra a pandemia do novo coronavírus, juntamente com a criação de um programa de distribuição gratuita de alimentos que chegaria a pelo menos metade da população. As eleições gerais do país também foram adiadas.
A presidente do Parlamento boliviano, Eva Copa, disse que a nova data para as eleições gerais, originalmente marcadas para 3 de maio, será definida quando o período de quarentena total contra a pandemia estiver concluído.
O atraso das eleições gerais estende pela segunda vez o mandato do governo interino da também candidata Jeanine Áñez, cuja gestão é garantida desde 22 de janeiro por uma lei que lhe dá o mandato de entregar o poder ao vencedor das eleições de maio.
O ex-presidente boliviano Evo Morales (2006-2019) aceitou a necessidade de adiar as eleições gerais de seu país, marcadas para 3 de maio, diante da pandemia do novo coronavírus.
"Partilhamos a posição de adiamento, tudo para salvar vidas", declarou Evo, de acordo com uma declaração da sua equipe baseada em declarações de rádio.
A mesma posição é expressa por Luis Arce, ex-ministro da Economia, o candidato presidencial do partido de Evo Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS).
O ex-presidente, refugiado em Buenos Aires desde 12 de dezembro, afirmou que o governo interino de Jeanine Áñez deve "acompanhar a emergência sanitária com alimentos de emergência e medidas de emergência socioeconômica".
"Propusemos várias medidas e iniciativas, algumas delas para que a população possa ser atendida", acrescentou o antigo chefe de Estado.
Evo Morales, que foi forçado a renunciar em 10 de novembro, advertiu que, caso contrário, poderia haver "uma convulsão social" em seu país.
Medidas contra a propagação do coronavírus
O governo interino da Bolívia anunciou um endurecimento do controle policial e militar da quarentena contra a pandemia do novo coronavírus, juntamente com a criação de um programa de distribuição gratuita de alimentos que chegaria a pelo menos metade da população.
"Não é possível que haja pessoas que não cumpram a lei, que não cumpram a quarentena. Por isso, hoje anunciamos a declaração do estado de emergência sanitária para fazer cumprir a quarentena", declarou a presidente interina, Jeanine Áñez, em um pronunciamento em rede nacional de televisão.
A chefe de Estado, que falou ao final de uma reunião do gabinete ministerial, afirmou que a "cesta familiar gratuita" chegará a 1,6 milhão de famílias, "dos bolivianos que mais precisam", cujos serviços de eletricidade e água serão pagos pelo Estado durante os próximos três meses.
A presidente não pormenorizou as medidas aprovadas, mas alertou repetidamente para "o grande problema que virá" se os bolivianos não cumprirem a quarentena, aludindo ao risco de colapso do sistema de saúde devido a um eventual aumento acelerado dos casos da COVID-19, a doença causada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2.
Entretanto, na ausência de um relatório nacional oficial, a mídia publicou um relatório do governo de Santa Cruz que relatou seis novos casos de COVID-19, elevando o total para 38 em todo o país.
Áñez também anunciou que o estado de emergência sanitária, aplicado por decreto de 17 de março e reforçado por regulamento semelhante no sábado (21), será prorrogado até 15 de abril, o que significa que a quarentena total será prorrogada até essa data.
Quanto ao controle do cumprimento da quarentena, Áñez afirmou que o terceiro decreto de emergência sanitária aprovado na quarta-feira (25) "permitirá ao governo promover uma participação mais ativa das Forças Armadas e da Polícia Nacional na luta contra o coronavírus".
Os militares e a polícia foram mobilizados durante uma semana em uma tentativa de impor o cumprimento da quarentena, mas não conseguiram quebrar os bolsos de resistência em vários bairros de El Alto, uma cidade perto de La Paz, e em dezenas de municípios de outros departamentos do país, incluindo cidades fronteiriças.
Áñez declarou que a partir de quinta-feira (26), a multa para quem não cumprir a quarentena será duplicada, para o equivalente a US$ 144 (R$ 725), sem prejuízo de enfrentar processos criminais pelo crime de atentado à saúde pública, punível com até dez anos de prisão.
De acordo com o novo plano aprovado, a autorização para deixar as casas é limitada a cinco horas por dia, das 7h às 12h, que será restrita a apenas uma pessoa por família e uma vez por semana, para fazer compras essenciais.
Apoio à população
"Meu coração me diz que agora mais do que nunca devo estar ao lado dos bolivianos que mais precisam, dos que mais sofrem nesta quarentena, e é por isso que hoje anuncio que ordenamos a distribuição de uma cesta familiar a um milhão e 600 mil lares bolivianos", proclamou Áñez.
Segundo o Instituto Nacional de Estatísticas, há pouco mais de três milhões de famílias na Bolívia.
Outra medida de alívio econômico anunciada pela chefe de Estado interina foi que o Estado pagará as contas de eletricidade e água de abril, maio e junho para as famílias com renda baixa.