Nesta segunda-feira, o novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, apresentou suas credenciais ao Ministério das Relações Exteriores brasileiro, um dia depois de sua chegada à Brasília.
Em conversa por teleconferência com o chanceler Ernesto Araújo, o diplomata americano enfatizou o compromisso de "continuar trabalhando pela construção da aliança Brasil-EUA, com perspectiva de muitos avanços em comércio, investimentos, defesa, segurança e promoção da democracia", informou o Itamaraty.
No plano imediato, o embaixador destacou a prontidão e o desejo dos EUA, epicentro da pandemia da COVID-19, de cooperar com o Brasil no combate ao novo coronavírus.
Indicado pelo presidente Donald Trump em outubro passado, Chapman é um diplomata de carreira que já foi vice-chefe da missão norte-americana em Brasília, de 2011 a 2014. Além do Brasil, já serviu em países como Afeganistão, Bolívia, Moçambique, Nigéria e Equador, onde ocupou seu último posto, também como embaixador.
"É um perfil técnico, seguindo uma tradição dos Estados Unidos de apontar para a embaixada brasileira nomes de perfil técnico", afirma o professor de Relações Internacionais Carlos Gustavo Poggio, da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista afirma que, embora esse tipo de indicação seja o padrão quando se trata de Brasília, o mesmo não vale para postos em países de maior peso para os EUA, onde as nomeações políticas são mais comuns. Em geral, tais nomeações poderiam ser vistas como uma espécie de premiação para figuras que tenham contribuído de maneira significativa para a campanha do presidente eleito.
"Normalmente, embaixadas ao redor do mundo indicadas pelos Estados Unidos têm como característica servir de premiação para pessoas que doam para a campanha do presidente."
Nesse sentido, segundo Poggio, o fato de Trump indicar um diplomata de carreira para o Brasil não é necessariamente sinal de prestígio.
"Aliás, se a gente olhar o tempo que demorou para Trump finalmente indicar alguém, depois confirmar essa pessoa... A embaixada americana no Brasil ficou vaga por 18 meses, isso é praticamente um recorde. Não sei de outro momento da história em que nós tivemos essa embaixada vaga por tanto tempo."
De acordo com o especialista, para um governo que se diz tão próximo dos EUA, que é o caso da administração do presidente Jair Bolsonaro, essa demora do chefe de Estado norte-americano para apontar um embaixador pode ser entendida como um sinal de desprestígio, apesar dos constantes esforços do Palácio do Planalto para agradar à Casa Branca.
Mesmo com esse aparente desprestígio, o acadêmico considera Chapman, em teoria, um bom nome para o cargo. A questão, conforme ele explica, é saber, no atual contexto das relações entre os dois países, qual será de fato o peso do embaixador.
"Ainda mais se a gente considerar que temos eleições em novembro e, atualmente, não dá para dizer com certeza que o Trump será ou não será reeleito. Então, o tempo que ele vai ter para trabalhar será muito curto. Além de tudo, em um momento muito turbulento das relações internacionais com essa questão do coronavírus."
Tendo em vista que o principal projeto de política externa do governo brasileiro é a aproximação com os Estados Unidos, Carlos Gustavo Poggio acredita que, com o cargo de embaixador preenchido, é possível que o Brasil consiga fazer avançar mais determinadas pautas da agenda bilateral que não demandem muito tempo.
"Falou-se numa série de questões ligadas à facilitação comercial, por exemplo", destaca. "Há questões que são possíveis de avançar, mais pontuais, como desburocratização e outras questões que facilitem o fluxo de comércio entre os dois países."