Equador é o segundo país da América Latina com o maior número de mortes por coronavírus – 60, ficando atrás somente do Brasil, com 159 falecimentos registrados até 30 de março.
Contudo, em média por pessoa, o Equador seria o mais afetado da região, por ter 12 vezes menos população que o gigante sul-americano e o seu território ser 30 vezes menor, relata o portal RT.
Vala comum
No Equador, está em vigor um "estado de exceção", que, entre outras coisas, suspendeu a liberdade de reunião, a fim de deter a propagação do coronavírus no país. Em consequência, velórios são proibidos, quer o falecido estivesse infectado ou não.
Por outro lado, as autoridades elaboraram um "Protocolo para a manipulação e eliminação de corpos com antecedentes e presunção de COVID-19", do qual existem duas versões, uma para casos de morte em centros hospitalares e outra para falecimentos que ocorram fora desses locais.
Os protocolos estipulam que somente dois familiares e de primeiro grau podem liberar o corpo, sempre sem contato físico, não podendo a sua presença ultrapassar os cinco minutos, sendo o cadáver imediatamente cremado após a presença de um familiar. Em certos casos, permite-se o enterro físico, mas sem velório.
No entanto, em 27 de março, foi confirmado que o vice-presidente do país, Otto Sonnenholzner, havia anunciado a construção de uma sepultura comum em um cemitério da cidade de Guayaquil, a cidade com mais casos de coronavírus no Equador, com posterior edificação de um mausoléu.
Parentes e conhecidos dos falecidos, assim como a mídia local, relataram que muitos corpos continuam amontoados em hospitais públicos e clínicas privadas em Guayaquil, muitos queixando-se de faltas de respostas e da demora em localizar os defuntos.
Testes de coronavírus negados
Familiares e conhecidos dos mortos queixaram-se igualmente que algumas dessas vítimas não tiveram acesso a cuidados e testes para determinar se tinham contraído o coronavírus.
Entre essas vítimas está o jornalista Victor Hugo Pena Black, ex-funcionário de uma estação de televisão local, que foi mandado para casa sem primeiro ser testado para o coronavírus e morreu dois dias depois, relatou seu tio Jorge Black.
Nas redondezas dos cemitérios de Guayaquil, parentes fazem fila para acessar a cremação ou o enterro dos corpos.
Problemas na coleta de corpos
Devido à restrição de circulação que existe no país e à proibição de realizar velórios, os familiares das pessoas falecidas em suas casas são obrigados a chamar as autoridades, para recolher os corpos. Muitos se queixam da lentidão da resposta, havendo relatos de 15 horas de espera para levantar o cadáver.
Um cidadão postou um vídeo de seu irmão, falecido em plena calçada. Por falta de veículos do SAMU, o corpo só seria removido da rua no dia seguinte.
Nós estamos ajudando a Saúde Pública para acelerar a transferência de falecidos, aumentando o número de veículos para este fim. Agradeço à Polícia e à CTE pelo empenho e dedicação
Na semana passada, em uma entrevista de rádio, a ministra do Governo María Paula Romo informou que entre 24 e 26 de março as autoridades recolheram 100 corpos, todos em Guayaquil, falecidos devido ao coronavírus ou por outras circunstâncias.
Situação crítica
A situação nos hospitais também atingiu níveis críticos. Muitos cidadãos com sintomas têm sido colocados do lado de fora dos hospitais e unidades de atendimento em Guayaquil, onde alguns são oxigenados em pleno exterior.
Drama no exterior dos hospitais em Guayaquil
Quanto à situação dos médicos, enfermeiros e outros agentes de saúde, só em 26 de março, após numerosas queixas, o novo ministro da Saúde, Juan Carlos Zevallos, informou que lhes seriam finalmente disponibilizados trajes de biossegurança.
Entretanto, o vice-presidente equatoriano Sonnenholzner anunciou a contratação de mais de 400 médicos para atender à emergência, bem como US$ 69 milhões (R$ 358 milhões) para material médico e equipamentos de segurança para os profissionais de saúde e US$ 115 milhões (R$ 596,7 milhões) destinados a equipamentos para unidades de terapia intensiva e testes.
Contudo, e de acordo com a Organização Sindical Nacional Única dos Trabalhadores do Ministério da Saúde Pública (Osuntramsa), em 2019, como parte do Plano de Prosperidade 2018-2021 e do Plano de Otimização da Função Executiva, mais de 2.500 trabalhadores do setor de saúde foram demitidos.