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Cientistas brasileiros pedem mais apoio na luta contra o novo coronavírus

Apesar de vários esforços, os sucessivos cortes na área da ciência e confusões geradas por orientações conflitantes impedem um combate mais adequado ao novo coronavírus no país, diz o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Sputnik

Teve início hoje o prazo para submissão de estudos ligados ao combate ao novo coronavírus para os interessados em receber um apoio de R$ 1,5 milhão da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Enquanto isso, em outros estados, vários outros cientistas estão precisando também de ajuda para levar adiante pesquisas em torno do desenvolvimento de uma vacina de prevenção ao novo coronavírus, bem como de medicamentos para o tratamento da COVID-19, enfermidade provocada pelo vírus. 

​De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o físico Ildeu de Castro Moreira, embora as instituições científicas de todo o país já estejam profundamente engajadas no enfrentamento à pandemia, há uma constatação de que é preciso que sejam liberados mais recursos, por parte do governo federal, para o sistema de saúde e para essas instituições que estão produzindo equipamentos e medicamentos e participando de outras atividades ligadas ao surto do coronavírus.

"No caso da ciência, é fundamental que, pelo menos, não nos cortem [recursos], como vem acontecendo ameaças aí na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior]. Então, é fundamental que tenha mais recursos para isso. Nós estamos empenhados junto ao Congresso Nacional para ter mais recursos nessa direção. E o Ministério de Ciência e Tecnologia fez uma solicitação de R$ 100 milhões adicionais, para editais e vários programas emergenciais. Nós estamos achando e defendendo no Congresso Nacional que esse valor deve ser multiplicado por cinco, porque é importante que tenha mais recursos para essa área", disse o cientista em entrevista à Sputnik Brasil.

Segundo Moreira, esse dinheiro seria útil, por exemplo, para buscar meios de tratamento mais ágeis, desenvolver novos fármacos e aumentar a realização de testes.

"O Brasil tem que aumentar muito o número de testes que estão sendo feito. Ajuda muito no controle da pandemia. A própria saída dela vai depender muito do entendimento de como está a sua disseminação pela população brasileira."

Para o físico, as reduções de verbas para a ciência no Brasil, ao longo dos últimos anos, estão afetando muito o desenvolvimento de pesquisas e outras atividades no país, com valores, segundo ele, equivalentes a um terço do que se tinha há dez anos, o que poderá impactar desde a pós-graduação até a educação básica.

Nesse cenário, ele afirma que o governo tem se mostrado muito pouco sensível à situação dos cientistas, sobretudo no que diz respeito à área econômica, que é a que determina o andamento do orçamento.

"No Ministério de Ciência e Tecnologia, o ministro é sensível, tem discutido, tem um diálogo, mas não tem mostrado a força, a área não tem tido a força dentro do governo para fazer uma mudança significativa nos recursos. E no Ministério da Educação, também, nós temos muitas dificuldades", explica, acrescentando que, em meio à pandemia, essas questões ficam ainda mais críticas.

Sobre o desempenho da administração pública no combate ao surto do novo coronavírus no país, o presidente da SBPC destaca que é importante separar bem as esferas de governo. No caso do governo federal, o especialista acredita que o Ministério da Saúde estava tendo uma atuação muito boa, com orientações claras e muito relevantes. No entanto, segundo ele, essa atuação acabou sendo afetada por interferências indevidas da presidência nesse setor. 

​"O presidente da República, algumas vezes, se manifestou contrário a isso, o que cria uma confusão imensa. E a gente acha que é uma atitude completamente errônea, em um momento em que a gente precisa de união do país inteiro, de todos os setores, do governo federal, dos governos estaduais. A grande maioria dos governadores está acompanhando, criando comissões locais, acompanhando o que os médicos, os cientistas, o pessoal da saúde orienta. E também os organismos internacionais."

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