A dependência extrema de insumos importados para a fabricação de medicamentos e dos testes ajuda a explicar a situação, de acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo nesta sexta-feira (10). Mas a subnotificação, já reconhecida pelas autoridades, vai além.
A publicação revela que o Brasil testa muito pouco a população. O país faz 296 testes por milhão de habitantes, enquanto o Irã, o segundo que menos testa entre os mais afetados, faz 2.755 por milhão. Os EUA, 7.101 por milhão. A Alemanha, um dos países com menor taxa de mortalidade, testou 1.317.887 pessoas, o que corresponde a 15.730 por milhão.
O Brasil só produz uma pequena porcentagem dos testes contra a COVID-19. A grande maioria dos testes e dos insumos para a produção deles e de medicamentos que estão sendo testados, como a hidroxicloroquina, vêm do exterior e são produzidos por países como China, EUA, Índia e nações europeias.
A forte concorrência também é apontada como um entrave para o Brasil testar mais – hoje os testes são direcionados a pacientes graves, mortos, e profissionais de saúde –, mas a ausência de uma política clara e unificada do governo federal também não ajuda.
Se de um lado o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou nesta semana estar trabalhando com o embaixador na China no Brasil para obter respiradores e outros equipamentos, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, criaram rusgas diplomáticas com Pequim.
Segundo pesquisadores ouvidos pelo jornal, a falta de investimentos na indústria de biotecnologia e na pesquisa estão agora cobrando o seu preço. De acordo com Roger Chammas, da Rede USP para Diagnóstico da COVID-19 (Rudic), não falta capacidade técnica, mas sim insumos que, se tivesse havido investimento, o país poderia produzir aqui.