Em meio à crise do novo coronavírus, o mercado do petróleo, afetado recentemente por uma acentuada queda nos preços, deverá enfrentar agora uma considerável redução na produção, a fim, justamente, de diminuir a oferta e controlar a instabilidade dos últimos meses.
Em 12 de abril, Rússia, Arábia Saudita e EUA acordaram com outros produtores mundiais do combustível grandes cortes na produção em resposta a uma drástica queda de preços. Ao todo, 23 Estados se comprometeram a reduzir sua produção para atingir a meta de corte de 9,7 milhões de barris por dia, equivalente a cerca de 10% do total mundial, em maio e junho.
"Com essa decisão, o petróleo já reagiu um pouquinho. Hoje, os preços estão aumentando em cerca de 2%. Mas ainda é pouco 9,7 milhões de barris/dia, porque a queda que se espera no consumo mundial é de cerca de 20 milhões de barris/dia", afirma o economista José Mauro de Morais, coordenador de Estudos de Petróleo da Diretoria de Estudos Setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Em entrevista à Sputnik Brasil, o especialista destaca que, uma vez que a Arábia Saudita aumentou muito a produção de petróleo em março e abril, além da rápida queda nos preços, os estoques mundiais cresceram muito nesse período, deixando o mundo "abarrotado de petróleo". Isso, segundo ele, deverá manter uma oferta muito grande durante mais algum tempo, nos próximos meses, evitando que os preços se recuperem "com a rapidez esperada".
"O efeito, então, da queda nos preços é desemprego muito grande nas empresas produtoras de petróleo", explica. "A queda nos preços do petróleo, além de diminuir os investimentos das petroleiras, tem um efeito muito grande também sobre as energias renováveis, pois as energias renováveis competem com o petróleo. E, com o preço do petróleo muito baixo, há um efeito muito de queda nos investimentos das energias renováveis."
De acordo com Morais, o petróleo representa cerca de 10 a 15% dos investimentos realizados no Brasil, além de responder por cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB). E, dadas as circunstâncias atuais, esse desaquecimento do setor deve trazer consequências significativas também para a economia brasileira.
"As compras que a Petrobras faz, na economia como um todo, essas compras diminuem. Porque os investimentos da Petrobras também vão diminuir, assim como ela já anunciou uma queda na produção de 200 mil barris por dia. Tudo isso tem um efeito de depressão sobre os investimentos em geral na economia brasileira."
O economista afirma que os estados brasileiros já estão sentindo os efeitos da queda nos preços do petróleo, que se refletem em quedas nas receitas mensais de royalties encaminhadas pela União.
"Os caixas dos estados vão sentir muito. Isso serve para lembrar aos estados que as receitas do petróleo são muito instáveis. E não se pode confiar muito no petróleo. Ou a produção de petróleo diminui, ou há queda muito abrupta nos preços do petróleo, diminuindo o impacto nas receitas dos estados, ou, como se sabe, o petróleo deixará de ser uma mercadoria importante daqui a cerca de 15 anos ou 20 anos. Então, os estados têm que criar alternativas para substituir as receitas do petróleo, principalmente nos estados de Rio de Janeiro e Espírito Santo."