Acusações dos EUA contra OMS são 'politicamente engajadas e infundadas', diz representante russo

Anúncio da interrupção do financiamento dos EUA à OMS provoca críticas de diversos governos. França, Alemanha e Rússia defendem importante papel do organismo em meio a pandemia do coronavírus.
Sputnik

Nesta terça-feira (14), o presidente Donald Trump anunciou que os EUA deixarão de financiar a OMS, alegando que espera uma mudança no organismo pelo seu papel na "severa má gestão e encobrimento da propagação do coronavírus".

Para Gennady Gatilov, representante permanente da Rússia no órgão, o anúncio dos Estados Unidos coloca o sistema de organismos internacionais a caminho de uma ruptura.

"Os últimos anúncios de Washington apontam para uma dolorosa e triste conclusão: a saída dos EUA da UNESCO, do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a interrupção do financiamento da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente e, agora, da OMS – não será tudo isso uma política dirigida à queda do sistema de organizações internacionais, em especial daquelas que não são bem-vistas pelos EUA?", comentou Gatilov.

O diplomata russo recordou que "os americanos são amplamente representados em todas as divisões do Secretariado, incluindo o mais alto escalão, assim como nos comitês especializados, inclusive no Comitê de Emergência de saúde pública. Portanto, dizer que a OMS escondeu algo dos EUA é ridículo. Os especialistas americanos conheciam muito bem a situação. Torna-se evidente que as acusações contra a OMS são politicamente engajadas e infundadas".

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, criticou nesta quarta-feira (15) a decisão da Administração Trump de cortar os fundos repassados à Organização Mundial da Saúde (OMS), defendendo que proporcionar financiamento à Organização "é um dos melhores investimentos".

"Temos que trabalhar juntos contra a COVID-19. Um dos melhores investimentos é fortalecer as Nações Unidas, especialmente a OMS, que não conta com fundos suficientes", comentou Maas em um tweet, explicando que isto poderia ser benéfico, por exemplo, para "desenvolver e distribuir testes e vacinas" contra o coronavírus.

O ministro também recordou que "apontar a culpa não ajuda", já que "o vírus não conhece fronteiras".

Além de manifestações de Berlim e Moscou contrárias à ação norte-americana, a porta-voz do governo da França, Sibeth Ndiaye, manifestou que "esta é uma decisão que lamentamos".

Anteriormente, o mandatário norte-americano acusou o organismo de favorecer Pequim e o criticou por se opor à sua restrição de voos provenientes da China. Trump também afirmou que a OMS perdeu tempo quando a propagação começou e lamentou que não tenha tomado medidas "meses antes".

Em resposta, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, instou a não politizar a pandemia "se não desejam mais bolsas de cadáveres".

Os EUA têm sido um dos principais doadores do organismo internacional, contribuindo com aproximadamente US$ 400 milhões (R$ 2 bilhões) anuais, o que representa 15% do orçamento da entidade.

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