Testes, limpezas, produção de desinfetante: o papel dos militares no combate à pandemia em Portugal

Considerado um bom exemplo no combate ao novo coronavírus, Portugal tem utilizado todos os recursos disponíveis nas operações. Parte significativa dos trabalhos é feita pelas Forças Armadas, que disponibilizou militares para atuação em todas as regiões do país.
Sputnik

Desde o início do mês de março, quando foi confirmado o primeiro caso da COVID-19 em Portugal, as Forças Armadas portuguesas botaram em prática planos de contingência em várias áreas. Para o apoio ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), o SUS de Portugal, são 18 unidades militares em serviço, além de leitos extras. "Foram disponibilizadas pelas Forças Armadas cerca de 2.000 camas, que podem ser utilizadas para prestar cuidados de saúde e também serão disponibilizadas 300 camas para apoiar os profissionais do SNS. Têm sido ainda instaladas várias unidades de campanha [hospitais de campanha] em vários hospitais do SNS", explica o Ministério da Defesa à Sputnik Brasil.

O reforço à saúde também chega na área científica. A Unidade Militar Laboratorial de Defesa Biológica e Química do Exército passou a realizar testes para a COVID-19, funcionando 24 horas por dia, e o Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos aumentou a produção de desinfetantes. "Para conseguir corresponder às solicitações do Serviço Nacional da Saúde, encontra-se em curso a aquisição de novos equipamentos e a constituição de uma nova equipe de produção. Com estes reforços em curso, o Laboratório Militar já duplicou a produção diária de gel desinfetante, que é atualmente de 2.000 litros", diz o ministério.

Ações sociais e voluntariado

De acordo com o Ministério da Defesa, a Força Aérea portuguesa já fez o transporte de mais de cinco toneladas de material médico entre a área continental do país e as ilhas dos Açores e da Madeira. Além disso, o Exército e a Marinha têm sido responsáveis por limpezas e desinfecções de lares de idosos, locais que têm registrado surtos da doença, e pela distribuição de alimentos a moradores de rua em Lisboa.

​Para garantir suporte às equipes, caso seja necessário, as Forças Armadas lançaram um chamado a ex-militares. Cerca de sete mil pessoas se voluntariaram para ajudar. "Os voluntários inscritos, cujas áreas de formação passam pela medicina, farmácia, enfermagem, psicologia, incluindo ainda outras áreas de apoio, serão espalhados pelo país, nas 18 unidades militares de apoio ao Serviço Nacional de Saúde, disponibilizadas pelas Forças Armadas. Quando a necessidade surgir, os voluntários que se inscreveram poderão ser contactados, mediante a sua formação e experiência profissionais, para apoiar nas atividades necessárias ao funcionamento das capacidades disponibilizadas pelas Forças Armadas ao SNS", diz o ministério.

Operações suspensas

Se as ações dentro do território nacional têm sido intensificadas, a atuação militar portuguesa no exterior sofre interrupções. O navio-escola Sagres, que partiu no mês de janeiro para uma volta ao mundo com 142 tripulantes, deu meia-volta e está retornando para Portugal.

Outra missão interrompida é a colaboração no treinamento das tropas do Iraque, atividade da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) da qual Portugal faz parte. Os cerca de 30 militares portugueses que atuavam na missão, que deveria terminar em maio, já voltaram ao país.

"As outras Forças Nacionais Destacadas estão bem, com medidas de proteção face à doença, mas sem qualquer caso a reportar em termos de infecções. Alguns militares na cooperação também estão a regressar. Os programas de Cooperação no Domínio da Defesa estão a ser avaliados para ter em conta aquilo que é a realidade deste momento. Estamos a trabalhar em estreita articulação com a OTAN e a União Europeia no que toca à partilha de informações", disse o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, durante uma audiência na Comissão de Defesa do Parlamento.

O ministro também confirmou que há 57 militares diagnosticados com a COVID-19 no momento.

Maior envolvimento

Em Portugal, cabe à Guarda Nacional Republicana (GNR), uma força que tem origem militar, e à Polícia de Segurança Pública (PSP), força civil, todas as ações de fiscalização e punição no âmbito do combate ao novo coronavírus. De acordo com a imprensa portuguesa, comandos das duas forças demonstram desagrado com uma possível maior participação das Forças Armadas nessas operações.

No entanto, o cenário pode ser alterado. Nesta terça-feira (14), o presidente Marcelo Rebelo de Sousa se reuniu com o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, almirante António Silva Ribeiro, "com quem abordou a participação atual das Forças Armadas no combate à pandemia da COVID-19, bem como a possibilidade de um eventual maior envolvimento das mesmas", lê-se na nota divulgada pela Presidência da República.

Testes, limpezas, produção de desinfetante: o papel dos militares no combate à pandemia em Portugal

Ao final da reunião, o almirante António Silva Ribeiro apenas disse aos jornalistas que o foco do encontro correspondeu às "contribuições que as Forças Armadas têm dado para o combate à crise".

O presidente ainda se reuniu com o comandante-geral da GNR e com o diretor nacional da PSP.

Portugal está no segundo período de estado de emergência, que entrou em vigor no último dia 3 e segue até o próximo dia 17. A expectativa é de que o presidente prorrogue o decreto por mais 15 dias e que proponha alterações ao papel que cada força desempenha no combate à pandemia.

Atualmente, Portugal tem 567 mortes confirmadas pela COVID-19 e 17.448 casos confirmados da doença.

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