Como militares da contrainteligência soviética tomaram arquivo secreto nazista em 1945

Historiador russo recorda, 77 anos após fundação da agência de contrainteligência militar soviética SMERSH, uma ousada operação de resgate de valiosos arquivos da Abwehr nazista, em 1945.
Sputnik

Aleksandr Zdanovich, doutorado em História, tenente-general aposentado da FSB e pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa de História Militar da Academia do Estado-Maior das Forças Armadas da Rússia, relatou à Sputnik como, já durante o ataque final do Exército Vermelho a Berlim em 1945, a SMERSH logrou executar uma audaz operação para se apoderar de documentos secretos da contrainteligência militar nazista.

'Morte aos Espiões'

Cumprem-se hoje (19) exatos 77 anos sobre a fundação da SMERSH, acrônimo em russo de "Morte aos Espiões", diretoria de contrainteligência militar soviética fundada em 19 de abril de 1943 por um decreto secreto do governo da URSS.

A SMERSH desempenhou um papel muito importante na ofensiva sobre Berlim, já no final da Segunda Guerra Mundial. Esta agência de contrainteligência militar, em particular, foi encarregada de apreender os arquivos do Estado alemão e dos órgãos do partido nazista, bem como os dos serviços secretos e os arquivos de informação científica e técnica.

"Um grande sucesso foi, por exemplo, a apreensão dos arquivos da Abwehr. Nesta operação, distinguiram-se sobretudo os agentes da SMERSH da 47ª Divisão de Infantaria da Guarda do 8º Exército da 1ª Frente da Bielorrússia", salientou Zdanovich.

Segundo o historiador, na periferia de Berlim, perto de Zelendorf, situava-se uma das principais bases da Abwehr, a inteligência militar alemã, disfarçada de instituto agrícola.

A fim de evitar a evacuação da documentação e do pessoal da Abwehr para oeste, face à ofensiva do Exército Vermelho, os altos comandos soviéticos arquitetaram uma operação para se apoderarem dos arquivos alemães.

Como militares da contrainteligência soviética tomaram arquivo secreto nazista em 1945

Assim, o coronel-general Vasily Chuikov, comandante do 8º Exército, alocou para a operação uma companhia de tanques e um batalhão de infantaria motorizada. Para liderar a operação foi constituída uma força-tarefa especial de agentes da SMERSH.

"Com o apoio de fogo das unidades do nosso Exército, os operacionais romperam a linha de defesa alemã e, tendo percorrido mais de dez quilômetros, lograram tomar o alegado instituto. Fizeram isso praticamente sem enfrentar resistência – só lá estavam os guardas que foram apanhados completamente de surpresa", conta Zdanovich.

"Os funcionários da base da Abwehr estavam dormindo e aguardando a evacuação para oeste. Centenas de agentes da Abwehr foram feitos prisioneiros, havendo entre eles alguns russos", prosseguiu o historiador.

Contudo, durante o dia, o grupo que tomou a base viu-se obrigado a ripostar e repelir ferozes contra-ataques alemães, que tentavam liberar o centro de inteligência.

"Acontece que a 47ª Divisão [soviética] não conseguiu logo penetrar as defesas alemães e ir de encontro aos operacionais. Os nazistas abriram fogo de artilharia e morteiros [sobre a base] com o intuito de destruir os caminhões [carregados] com os documentos", disse Zdanovich.

Heroica resistência

Os militares e agentes da SMERSH soviéticos, participantes da ousada operação, conseguiram repelir "heroicamente os ataques alemães. Na manhã seguinte, as nossas tropas lograram romper o perímetro e resgatar o grupo. Como resultado, conseguimos preservar os documentos extremamente valiosos que tínhamos obtido", acrescentou Zdanovic.

Segundo especialistas, a SMERSH foi o melhor serviço de inteligência da Segunda Guerra Mundial, garantindo a condução bem-sucedida de todas as operações ofensivas do Exército Vermelho, superando a inteligência alemã e neutralizando um grande número de agentes e sabotadores alemães.

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