Segundo informações publicadas pelo jornal O Estado de S. Paulo, a Boeing enfrenta sérias dificuldades financeiras e poderia não conseguir honrar os US$ 4,2 milhões (R$ 22,3 milhões) que aceitou pagar pela maioria das ações da Embraer.
Além da perda de valor de mercado – em parte causada pela redução da demanda por voos e aeronaves por conta do surto da COVID-19, em outra pelos acidentes envolvendo o modelo 737 MAX, a Boeing deve precisar de um apoio do governo dos Estados Unidos, nos moldes do que a Casa Branca fez na crise de 2008.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o economista Ricardo Balistiero, coordenador do Curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, ex-funcionário dos departamentos de finanças da Varig e da IATA, relembrou que o aporte de US$ 60 bilhões (R$ 319 bilhões) que a Boeing buscará em Washington deverá ser concedido.
"Não tenho porque não acreditar que o governo não estenderia esse nível de ajuda para uma empresa que, da mesma forma como a General Motors [ajudada em 2008], é um ícone da indústria norte-americana e sem dúvida mundial que é a Boeing. Então eu acredito que o governo não hesitaria em colocar dinheiro na Boeing se isso representasse a possibilidade de sobrevivência dessa empresa, ante uma pandemia que acabou se colocando como um fator exógeno na crise", avaliou.
O especialista em aviação comercial relembrou também que o capitalismo costuma punir empresas mal gerenciadas com a falência, mas que esse não é o caso da Boeing, tampouco da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo e que também perdeu valor de mercado diante do difícil ano de 2020.
Desde o fechamento do acordo, em julho de 2018, até o presente a Embraer perdeu mais da metade do seu valor de mercado. Contudo, Balistiero explicou que a venda de ativos de risco – no caso, as ações – é esperada em momentos de incerteza e crise. Assim, o analista ouvido pela Sputnik Brasil destacou que a recuperação virá.
"Essa é uma situação momentânea e, assim como essas ações caíram nesse momento, em uma situação de recuperação do mercado essas ações vão voltar a subir, até porque são empresas saudáveis e que têm uma boa reserva de caixa. É um movimento de desalavancagem financeira, principalmente por conta dos grandes investidores, o que naturalmente gera uma queda nas ações, mas certamente isso vai gerar uma recuperação mais a frente", prosseguiu.
Questionado sobre a possibilidade de uma empresa chinesa poder se aproveitar da fragilidade do acordo entre Boeing e Embraer neste momento para atravessar a negociação, Balistiero se mostrou cético. Segundo o especialista, é certo que os chineses teriam interesse, mas a tendência é pela sobrevivência de ambas as empresas e, na sequência, a retomada do acerto, mesmo que com modificações.
"A China está sempre muito de olho nas oportunidades de negócios com seus maiores parceiros comerciais. Eu não acredito que o negócio entre Boeing e Embraer será desfeito, ele está em um compasso de espera nesse momento. Na verdade, as empresas estão tratando primeiramente da sua sobrevivência, estão pensando mais a frente no futuro, na recuperação, então um acordo dessa magnitude pede prudência, pede normalidade, tudo o que não temos hoje no mundo dos negócios. Nós estamos em um momento de exceção, mas eu não acredito que esse acordo será desfeito. Porém, acho que ele terá que passar por alguns ajustes no futuro", finalizou.