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Brasil busca EUA para comércio, mas eles estão mais focados no 'mercado interno', dizem economistas

Governo brasileiro busca fortalecer comércio com os EUA, mas no momento americanos pensam no "mercado interno" e "geopolítica" pós-coronavírus será outra, disseram economistas à Sputnik Brasil.
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Na última quinta-feira (16), o chanceler do Brasil, Ernesto Araújo, e o representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, conversaram por telefone para discutir formas de intensificar o comércio entre os dois países, de acordo com o Acordo Brasil-Estados Unidos de Cooperação Econômica e Comercial (ATEC).

Segundo a embaixada dos EUA no Brasil, a "ligação foi parte da sequência da reunião" que os presidentes estadunidense, Donald Trump, e brasileiro, Jair Bolsonaro, tiveram em março, na Flórida. Nesta semana, membros da ATEC irão conversar por telefone para discutir áreas do acordo.

No entanto, essa tentativa de fortalecimento do comércio, no atual momento, durante plena crise do coronavírus, pode ser infrutífera. Para defender seu ponto de vista, o economista Gilberto Braga cita declaração feita à Folha de S.Paulo pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, de que o país só poderá dar atenção ao Brasil após a melhora do quadro diante da COVID-19.

'Esperar dobrar a esquina da pandemia'

"Nesse momento com os Estados Unidos, como o próprio Pompeo disse, é preciso esperar o país dobrar a esquina da pandemia para se estabelecer um relacionamento mais direto. Há um alinhamento político entre o governo Bolsonaro e o governo Trump, sobretudo nos posicionamentos mais pessoais dos dois presidentes, mas são realidades muito distintas", disse à Sputnik Brasil o professor do Ibmec-RJ e da Fundação Dom Cabral.

O economista Ricardo Gennari, proprietário da empresa de consultoria Troia Intelligence, também acredita que uma intensificação do comércio nos dias atuais é impossível, pois os países estarão voltados para seu "mercado interno".

"Todo mundo vai se voltar para o mercado interno de seus países, e só depois disso nós teremos uma reação do mercado internacional para novas parcerias e negociações", afirmou o especialista.

Em relação aos EUA, ele diz ser "difícil rodadas de negociações" e acredita que só após "seis meses" as relações estarão mais normalizadas, pois a nação está "preocupada com a questão da COVID-19 e a retomada da economia".

"Não vejo nesses seis primeiros meses agora parcerias e negócios sendo refeitos entre Brasil e Estados Unidos", opinou.

Mundo será 'diferente' pós-coronavírus

De acordo com os economistas, há ainda outra questão mais profunda em jogo: uma mudança de paradigma global, que após o fim da crise do vírus vai levar a um reposicionamento geopolítico.

Para Braga, o "comércio e o mundo" serão "diferentes" após a pandemia, e deve ocorrer um aumento do "nacionalismo" no mundo, com os EUA aprofundando políticas para elevar "sua produção local".

Ele também aponta que os Estados Unidos demonstraram despreparo para lidar com a pandemia internamente e, ao mesmo tempo, não cumpriram o papel de liderança mundial.

"É bastante provável que nós tenhamos uma mudança na relação dos Estados Unidos com o mundo. Os Estados Unidos não lideraram, efetivamente, o combate mundial à COVID-19", disse Gilberto Braga.

'Nova geopolítica'

Gennari também fala em um novo cenário global.

"A gente terá uma nova geopolítica, e não sabemos como serão os enfrentamentos e conflitos que provavelmente virão, principalmente econômico, entre Estados Unidos e China", afirmou.

Por outro lado, o economista acredita que o Brasil pode tirar proveito dessa nova ordem, desde que acerte questões políticas internas.

"O que a gente precisa nesse momento é ter estratégias politicas adequadas para realmente enfrentar essa geopolítica que vem pela frente", disse Ricardo Gennari.
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