'Eles não tinham chances': por que os americanos perderam no Vietnã

Há 45 anos, em 21 de abril de 1975, Nguyen Van Thieu, presidente do Vietnã do Sul, fugiu do país, com tropas vietnamitas do Norte já sitiando Saigão. Duas semanas depois terminaria a guerra do Vietnã.
Sputnik

Unidades militares desorganizadas se retirando caoticamente ou se rendendo em massa, diplomatas americanos evacuados à pressa, não sem antes queimarem documentação e abandonando seus pertences. Uma cidade sitiada e um país dividido em dois Estados estão prestes a reunificar-se.

Era este o cenário em vésperas da tomada de Saigão, capital do Vietnã do Sul, pelas tropas do Vietnã do Norte. Como foi possível um país tão pequeno fazer frente à poderosa máquina de guerra norte-americana, resistir durante tantos anos e finalmente vencer? É sobre esta vitória de Davi sobre Golias que relata a Sputnik.

Conhecimento do terreno

Se os norte-americanos tinham uma supremacia aérea esmagadora, já no chão eles se sentiam bem menos confiantes. Não foi por acaso que esta guerra foi apelidada de "discoteca infernal na selva".

Os recrutas do Exército dos EUA não estavam nada preparados para a alta umidade, matas densas e impenetráveis, miríades de insetos e cobras venenosos, bem como chuvas torrenciais e prolongadas.

Os fuzileiros adaptaram-se um pouco melhor, dado que a maioria de seus oficiais participou da Segunda Guerra Mundial, lutou com os japoneses pelas ilhas tropicais do Pacífico e compartilhou a experiência com seus subalternos. Mas não havia muitos fuzileiros no Vietnã.

Já os soldados do Vietnã do Norte se sentiam na selva como peixes na água, recorrendo a ações de infiltração, sabotagem e táticas de "bate e foge".

'Eles não tinham chances': por que os americanos perderam no Vietnã

O Exército regular do Vietnã do Norte era ativamente apoiado por guerrilheiros, os vietcongues, habitantes locais que conheciam bem o terreno. Eles se camuflavam na perfeição, armavam astuciosas emboscadas contra patrulhas inimigas, montavam armadilhas, tais como fossas.

Para se protegerem de ataques aéreos e avançar dissimuladamente atrás das linhas inimigas, os vietcongues criaram toda uma rede de engenhosos túneis subterrâneos, propositadamente baixos e estreitos para que os norte-americanos corpulentos não pudessem caber neles.

Nestes túneis no subsolo eles montaram postos de comando, enfermarias, casernas, depósitos com provisões e munições e armazéns de material de guerra. Só podemos adivinhar quantos quilômetros de túneis os vietnamitas escavaram durante a guerra.

Armas leves

Desde março de 1965 os soldados norte-americanos no Vietnã eram armados com fuzis de assalto M16 – em substituição de M14. No entanto, logo os primeiros meses de operação revelaram muitas deficiências.

Sem canos e mecanismo de culatra cromados e não tendo sido fornecidos kits de limpeza e instruções de manutenção, as M16 se revelaram muito pouco confiáveis em combate, acumulando sujeira e encravando sistematicamente.

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As elevadas baixas devido à M16 levaram inclusive na época o Congresso dos EUA a abrir uma investigação especial.

Em 1967, surgiu o M16A modificado. Mas ainda assim eram inferiores em confiabilidade às carabinas SKS e fuzis AK, que equipavam os guerrilheiros vietcongues. Os próprios norte-americanos muitas vezes davam preferência aos Kalashnikov apreendidos em combate.

Além disso, os AK provaram ser muito melhores no combate corpo a corpo, enquanto o M16 frequentemente rachava a coronha no impacto.

Motivação

"Sabíamos que as vossas reservas de bombas e mísseis se esgotariam antes do moral dos nossos combatentes", afirmou o antigo vietcongue Bay Kao a David Hackworth, historiador americano e veterano de guerra na Indochina.

"Sim, éramos mais fracos em termos materiais, mas nosso moral e vontade eram mais fortes que os de vocês. Nossa guerra era justa e a de vocês não. Seus soldados sabiam disso, tal como o povo norte-americano", acrescentou.

Na verdade, para os soldados e guerrilheiros do Vietnã do Norte, os norte-americanos eram invasores, visitantes indesejáveis que chegaram armados a casa alheia.

A simpatia da população também não estava do lado dos Estados Unidos. Isso foi facilitado pelos próprios norte-americanos, que executavam bombardeios indiscriminados, em que dezenas de milhares de civis eram mortos. Assistindo a essas carnificinas, jovens vietnamitas alistavam-se voluntariamente na guerrilha. A guerra se tornou em uma guerra do povo vietnamita.

'Eles não tinham chances': por que os americanos perderam no Vietnã

Os estadunidenses, por seu lado, não entendiam por que estavam lutando e morrendo. O moral em muitas unidades era extremamente baixo, o que às vezes resultava em desobediência às ordens.

Nos Estados Unidos rapidamente crescia o movimento antiguerra. Em outubro de 1967, cerca de cem mil jovens organizaram uma passeata de protesto, denominada de "marcha sobre o Pentágono". Em agosto de 1968, a convenção do Partido Democrata em Chicago decorreu em meio a motins de rua. Os norte-americanos já estavam cansados da guerra e não queriam morrer longe de sua terra.

Ajuda soviética

A URSS apoiou o Vietnã do Norte desde meados da década de 1960, fornecendo a Hanói 95 sistemas de mísseis antiaéreos S-75 e mais de 7,5 mil mísseis. Os militares soviéticos construíram um sistema de defesa antiaérea a partir do zero e treinaram milhares de especialistas no uso da tecnologia moderna.

Além disso, a União Soviética forneceu a seus aliados vietnamitas várias centenas de caças, incluindo o inovador MiG-17.

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Os MiG-17 obtiveram sua primeira vitória em 4 de abril de 1965, quando quatro destes caças de fabricação soviética atacaram oito caças-bombardeiros F-105 Thunderchief norte-americanos sobre os céus de Thanh Hoa. Superando os F-105 em manobrabilidade, os MiG-17 venceram a batalha aérea, tendo sido abatidos dois aviões dos EUA. Desde então, em 4 de abril o Vietnã comemora seu Dia da Aviação.

Durante a guerra, os vietnamitas do Norte abateram 143 aviões inimigos, perdendo apenas 75 de seus próprios aviões.

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