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Moro quer ser 'vedete do impeachment' e é candidato à sucessão presidencial de 2022, diz analista

Segundo cientista político Carlos Eduardo Martins, a demissão de Sergio Moro deve afetar de forma profunda a situação política no Brasil.
Sputnik

Na manhã desta sexta-feira (24) o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu demissão do cargo após a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, ocorrida à sua revelia e sem a sua anuência.

Sergio Moro acusou Jair Bolsonaro de agir politicamente na Polícia Federal, deixando em aberto ao público o seu próprio futuro, bem como o futuro do governo Jair Bolsonaro.

O cientista político Carlos Eduardo Martins, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que a demissão de Sergio Moro agrava as fraturas já existentes nas elites brasileiras em relação ao governo de Jair Bolsonaro. Para ele, a gestão macroeconômica realizada pelo ministro da economia Paulo Guedes está sendo "um desastre", acentuado pela pandemia do coronavírus.

"Governo Bolsonaro joga sobre as costas dos trabalhadores todo o peso da solução ou da suposta solução dessa crise através da aceitação das iniciativas de abandono da quarentena e exposição dos trabalhadores brasileiros à política do genocídio", disse o professor para Sputnik Brasil.

O cientista político ressaltou as tensões entre o Grupo Globo e Bolsonaro desde o início do governo. Assim, a Globo seria representante do establishment tradicional e o grupo em torno do governo Bolsonaro seria um grupo emergente, ligado "à face mais agressiva do imperialismo norte-americano", disputando o controle sobre o Estado brasileiro. Nesse contexto, Moro seria uma figura híbrida, "que circula entre essas duas vertentes".

"É um homem que deve muito de sua carreira à projeção recebida do Grupo Globo. Então acho que, nesse momento de desgaste do governo Bolsonaro, pesou essa vinculação de Sergio Moro com o Grupo Globo, que deve entrar num confronto de morte com Bolsonaro em função da questão da renovação da sua concessão para funcionar como grupo midiático no Brasil".

Segundo Martins, o governo perde parte de sua base política com a demissão do ex-juiz da Lava Jato, pois Bolsonaro foi "resultado da culminação do golpe de 2016", que partiu de atores que antecederam o político.

"O governo perde parte de sua base de apoio, mas a direita do Brasil se estilhaça entre um grupo liderado por uma direita tradicional que deu o golpe em 2016 e um grupo emergente, associado ao governo Bolsonaro", argumenta o acadêmico.

Interferência na Polícia Federal

Apesar das declarações de Sergio Moro, feitas na manhã desta sexta-feira, acusando o presidente de ingerência nos assuntos da polícia, Carlos Eduardo Martins afirmou que essa prática também era seguida pelo ex-juiz.

Martins citou o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), segundo o qual Moro sempre atuou como instrumento de interferência de Jair Bolsonaro na Polícia Federal em diversas situações, como no caso de bloqueio de investigações sobre envolvimento de Flávio Bolsonaro em esquemas de "rachadinha" em sua época de deputado estadual no Rio de Janeiro, bem como na intervenção em investigações sobre o mandante do assassinato da vereadora Marielle Franco.

"Há muito tempo Sergio Moro vem atuando como interventor do governo Bolsonaro na Polícia Federal. Agora Sergio Moro resolveu recuar e eu creio que esse recuo está associado às questões que eu mencionei anteriormente".

O acadêmico acredita que Moro busca ser "a vedete do processo de impeachment" e é o candidato natural da direita à sucessão presidencial em 2022. Já o governo Bolsonaro, segundo o especialista, "vai se aproximando do seu final precoce".

O professor acrescentou que as Forças Armadas provavelmente devem se afastar de Bolsonaro e transferirão todo seu apoio ao vice-presidente Hamilton Mourão.

"Até porque o sucessor de Bolsonaro é Mourão. Mourão é um homem de carreira militar muito mais extensa, louvável, do ponto de vista corporativo e institucional, que a de Bolsonaro. Então Mourão é um homem que tranquiliza as inquietudes dentro das Forças Armadas", explicou Martins.

O cientista político acredita que um processo de impeachment de Bolsonaro "vai sangrar a direita internamente" e vais ser um processo de muito fogo cruzado.

"A esquerda tem que ter inteligência, ousadia e iniciativa para tirar partido dessa conjuntura e voltar a influenciar a opinião pública no Brasil", concluiu o entrevistado.
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