Os Clackamas veneravam o meteorito, acreditando que ele veio para unir o céu, a terra e a água para seu povo.
Em um artigo publicado no site científico The Conversation, o geocientista Daniel García-Castellanos, do Instituto de Ciências da Terra Jaume Almera de Barcelona, na Espanha, tece várias considerações sobre o corpo extraterrestre e formula várias hipóteses.
Caído do espaço
Tomanowos é um meteorito de 15 toneladas que é feito, como a maioria dos meteoritos metálicos, de ferro com aproximadamente 8% de níquel misturado. Esses átomos de ferro e níquel formaram-se nos núcleos de grandes estrelas que terminaram suas vidas em explosões de supernovas, adianta o cientista.
Estas explosões maciças disseminaram pelo espaço sideral os produtos da fusão nuclear, elementos brutos que depois acabaram em uma nebulosa, ou nuvem de pó e gás, prosseguiu.
A fascinante história de uma rocha do espaço, um "visitante do céu", que atravessa a era do gelo, as cortes e acaba em museu de Nova York
Finalmente, os elementos foram unidos pela gravidade, formando os primeiros orbs planetários ou protoplanetas de nosso Sistema Solar, concluiu Castellanos a descrição de como tudo inicialmente se processou.
Segundo o geocientista, há cerca de 4,5 bilhões de anos Tomanowos fazia parte do núcleo de um desses protoplanetas, onde metais mais pesados, como ferro e níquel, se acumulavam.
Algum tempo depois, esse protoplaneta deve ter colidido com outro corpo planetário, colocando este meteorito e um número desconhecido de outros corpos à deriva no espaço, opinou o especialista.
Levado pela geleira
Impactos subsequentes entre diversos corpos celestes ao longo de bilhões de anos empurraram a órbita de Tomanowos na direção da órbita da Terra. Como resultado desta espécie de jogo de bilhar cósmico, como lhe chamou Castellanos, o meteorito Tomanowos penetrou na atmosfera da Terra há cerca de 17.000 anos, caindo sobre uma geleira no atual Canadá em plena Idade do Gelo.
Tomanowos, o meteorito com a história mais curiosa de sempre
Com o tempo, a geleira foi deslocando lentamente o meteorito até uma represa natural de gelo de 600 metros de altura, que sustinha o enorme lago de Missoula, situado no atual estado norte-americano de Montana.
Com a pressão e peso do meteorito, a barragem de gelo cedeu, provocando uma das maiores inundações da história da Terra, as chamadas enchentes do Missoula, equivalentes à força de milhares de cataratas do Niágara, acabando o meteorito submergido e levado pelas correntezas.
Meteorito em corte
Quando as águas da inundação recuaram, Tomanowos ficou preso no atual estado do Oregon, exposto aos elementos atmosféricos. Durante milhares de anos, a chuva reagiu com um mineral raro na Terra, mas comum em meteoritos – a troilite (FeS). A água dissolveu lentamente o ferro, formando as cavidades que hoje o meteorito apresenta, referiu o especialista.
O estudo sobre o meteorito originou uma das mais significativas mudanças de paradigma na geociência atual, a do reconhecimento que inundações catastróficas contribuem significativamente para a erosão e a evolução da paisagem.
Ficou assim explicado por que se encontram, por vezes, fósseis marinhos em altas altitudes, por exemplo.
Os índios Clackamas, ao instalarem-se na região, descobriram o meteorito. Como eles perceberam a origem extraterrestre da rocha continua a ser um mistério para a ciência. Tendo sido batizado de "visitante do céu", era alvo de adoração reverencial, segundo Castellanos.
Em 1902, um homem do Oregon chamado Ellis Hughes moveu secretamente o meteorito para suas próprias terras e o reivindicou como sua propriedade, começando a cobrar ingressos para quem quisesse vê-lo.
Acabou por ver a pedra apreendida pelo tribunal a mando da empresa dona do terreno de onde furtara o meteorito, que teve de defendê-lo à bala.
O misterioso corpo celeste está agora exposto no Museu Americano de História Natural em Nova York, sendo ainda hoje alvo de uma peregrinação anual de descendentes da tribo Clackamas.
Reconhecendo o significado espiritual do meteorito para os nativos do Oregon, o museu devolveu à tribo vários fragmentos do meteorito que haviam sido mantidos separados.