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Descontrole da COVID-19 no Brasil na era Bolsonaro preocupa países vizinhos, diz agência

O aumento descontrolado nos casos de COVID-19 no Brasil alimenta o medo de que trabalhadores da construção civil, caminhoneiros e turistas do maior país da América Latina possam espalhar a doença nos países vizinhos que estão fazendo um trabalho melhor para conter a pandemia.
Sputnik

O Brasil, um país enorme que compartilha uma fronteira com quase todos os outros da América do Sul, confirmou mais de 70 mil infecções e mais de 5 mil mortes, segundo dados do governo e da contagem da Universidade Johns Hopkins, muitos mais que seus vizinhos.

Além disso, conforme mencionado na análise redigida agência AP, acredita-se que os dados reais de infectados e mortos sejam muito mais altos devido ao número limitado de testes de triagem.

As fronteiras do país permanecem abertas, quase não existem quarentenas ou limitações, e seu presidente, Jair Bolsonaro, continua negando a gravidade da pandemia.

O país de 211 milhões de pessoas superou a China nesta semana - o local onde o surto começou em dezembro do ano passado - no número oficial de mortes por COVID-19, a doença causada pelo vírus, levando Bolsonaro a dizer: "E daí?"

"Desculpe. O que você quer que eu faça?", declarou o presidente a repórteres na noite de terça-feira (28).

No Paraguai, soldados que monitoram a conformidade com vírus cavaram uma vala rasa ao lado dos primeiros 244 metros da estrada principal de entrada para a cidade de Pedro Juan Caballero, da cidade brasileira vizinha de Ponta Porã (MS), para impedir que as pessoas atravessem a pé do Brasil e desapareçam na cidade. O Paraguai tem menos de 250 casos confirmados de coronavírus e suas fronteiras estão fechadas desde 24 de março, com um reforço focado especialmente no do Brasil.

Descontrole da COVID-19 no Brasil na era Bolsonaro preocupa países vizinhos, diz agência

As autoridades argentinas dizem estar especialmente preocupadas com o trânsito de caminhões do Brasil, seu principal parceiro comercial. Nas províncias que fazem fronteira com o país vizinho, a Argentina está trabalhando para estabelecer corredores seguros, onde motoristas brasileiros podem acessar banheiros, obter comida e descarregar seus produtos sem sequer entrar em contato com os argentinos.

"Estou muito preocupado com o Brasil", declarou o presidente argentino Alberto Fernández à imprensa local no sábado (25). "Muitos transportes vêm do mercado de São Paulo, e aí o foco infeccioso é muito alto e parece que o governo não está levando isso com a seriedade que o caso exige. Isso me preocupa muito, para o povo do Brasil, mas também porque pude retornar para a Argentina".

Uma das oito infecções registradas na província argentina de Misiones é a de um motorista de caminhão de 61 anos que aparentemente ficou doente em São Paulo e depois voltou ao país, onde morreu depois de infectar sua esposa. Na Argentina, existem cerca de 4 mil casos confirmados e mais de 200 mortes, segundo a contagem da Universidade Johns Hopkins.

Situação fez Trump reagir

Até autoridades nos Estados Unidos, onde já existem mais de 1 milhão de casos registrados e as mortes ultrapassam 60 mil, manifestaram preocupação com o Brasil.

A Flórida, que tem uma grande população de descendentes de brasileiros, pode enfrentar a ameaça de passageiros em voos do Brasil que levam o novo coronavírus para o estado, informou o governador republicano Ron DeSantis ao presidente Donald Trump em Washington na terça-feira.

"Poderíamos estar fora, ir bem na Flórida, e depois essas pessoas poderiam vir", disse DeSantis.

O governador explicou que a decisão de Trump de vetar voos da China ajudou a controlar o vírus no oeste dos Estados Unidos, para o qual Trump perguntou se isso significava suspendê-los com o Brasil. DeSantis respondeu que uma das possibilidades era "não necessariamente suspendê-las", mas solicitar que as companhias aéreas testassem passageiros antes de embarcar em voos para a Flórida.

As autoridades da Colômbia também estão preocupadas, comentou Julián Fernández Niño, epidemiologista da Universidade Nacional de Bogotá.

"Em um mundo globalizado, a resposta para o problema da pandemia não pode ser fronteiras fechadas", avaliou ele. "O Brasil é um país de grande desenvolvimento científico e capacidade econômica, [mas] é claro que há uma posição não científica de liderança do seu governo em relação à resposta ao combate ao coronavírus".

No Uruguai, o presidente Luis Lacalle Pou observou que a disseminação do vírus no Brasil acendeu "luzes amarelas" para alertar seu governo e que as autoridades estavam reforçando o controle em várias cidades fronteiriças.

Descontrole da COVID-19 no Brasil na era Bolsonaro preocupa países vizinhos, diz agência

Recentemente, 30 trabalhadores cruzaram o Brasil para a cidade fronteiriça uruguaia de Rio Branco para ajudar a construir uma fábrica de concreto. Quatro deles deram positivo para o vírus, o que levou o Uruguai a colocar em quarentena toda a força de trabalho.

Funcionários de algumas cidades fronteiriças do Uruguai discutiram a criação de "corredores humanitários" através dos quais os brasileiros podem deixar o país com segurança.

Até a Venezuela, onde o sistema de saúde entra em colapso há anos, diz estar preocupada com a situação no território brasileiro.

"Ordenei reforçar toda a proteção da fronteira com o Brasil, onde a barreira epidemiológica, sanitária e militar é garantida", ponderou o presidente Nicolás Maduro na televisão estatal na semana passada.

O governo boliviano, um aliado de Bolsonaro, se recusou a comentar as medidas de seu vizinho contra o vírus, mas o ministro da Defesa Fernando López prometeu neste mês aplicar firmemente o fechamento da fronteira. "Se continuarmos a ser flexíveis na fronteira, a quarentena nacional será inútil", afirmou ele.

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