EUA estariam 'proclamando independência' das cadeias de abastecimento da China?

Na opinião de Washington, a pandemia da COVID-19 tem levado a prejuízos econômicos para os setores norte-americanos dependentes da China, mas há dificuldades visíveis em encontrar substitutos.
Sputnik

A administração Trump está acelerando a iniciativa de reduzir a dependência da economia dos EUA de exportações da China, desta vez procurando substituir cadeias de abastecimento chinesas em meio à pandemia da COVID-19, segundo a agência Reuters.

A China forneceu um grande número de máscaras e outros suprimentos médicos durante as semanas em que a Europa e a América do Norte foram mais assoladas pela disseminação mundial do coronavírus, e também foi importante no fornecimento de alimentos.

"Temos trabalhado em [reduzir a dependência de nossas cadeias de abastecimento na China] nos últimos anos, mas agora estamos acelerando ainda mais essa iniciativa", disse à mídia Keith Krach, subsecretário de Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA.

A destruição econômica e o alto número de mortes nos EUA por causa do novo coronavírus têm levado a atual administração a pensar afastar a produção para outros países, inclusive para outros considerados mais amigáveis.

"Há uma série de pressões governamentais sobre isso", disse um responsável. "As agências estão sondando quais fabricações devem ser consideradas 'essenciais' e como produzir esses bens fora da China."

Segundo outro alto responsável, "este momento é uma tempestade perfeita" que poderia pôr os "falcões" anti-China em ascensão definitiva, pois a pandemia "cristalizou todas as preocupações que as pessoas têm tido sobre fazer negócios com a China".

EUA estariam 'proclamando independência' das cadeias de abastecimento da China?

"Todo o dinheiro que as pessoas acham que fizeram realizando negócios com a China antes, agora eles já foram eclipsados pelos muitos prejuízos econômicos" do coronavírus, disse.

Ações concretas

Outro responsável anônimo afirmou que Washington está criando uma aliança de "parceiros de confiança", chamada de Rede de Prosperidade Econômica, que poderia incluir a Austrália, Índia, Japão, Nova Zelândia, Coreia do Sul e Vietnã, para "fazer avançar a economia global", disse o secretário de Estado, Mike Pompeo, na quarta-feira (29).

O objetivo da medida seria reestruturar as cadeias de abastecimento "para evitar que algo assim volte alguma vez a acontecer", assinalou Pompeo.

A Colômbia também poderia fazer parte das negociações, depois que no último mês o embaixador Francisco Santos falou com diversas organizações governamentais dos EUA para afastar alguma da produção da China, cita a Reuters.

No entanto, ainda não há muitas companhias dos EUA se afastando do dinâmico mercado chinês de 1,4 bilhão de pessoas, apesar dos riscos que têm visto se materializarem durante a pandemia, refere Doug Barry, porta-voz do Conselho Empresarial EUA–China.

Por exemplo, os "falcões" da administração ainda não puderam implementar a medida para bloquear a exportação mundial de chips para a Huawei, que a administração Trump tem acusado de espionagem para a China, apesar das negações de Pequim, diz a agência.

Em sentido contrário, os EUA já atendem a 70% da demanda farmacêutica atual, mas construir novas instalações no país demoraria de cinco a oito anos, afirmou John Murphy, vice-presidente sênior de política internacional da Câmara de Comércio dos Estados Unidos.

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"Estamos preocupados que as autoridades precisem obter os fatos certos antes de começarem a procurar alternativas", disse.

Antagonismo China–EUA

Donald Trump tem acusado a China de competição injusta desde o início de sua campanha eleitoral em 2015, começando a implementar sua visão com tarifas sobre produtos de companhias chinesas em 2018.

A China ultrapassou os Estados Unidos como o principal país fabricante mundial em 2010 e foi responsável por 28% da produção global em 2018, de acordo com dados das Nações Unidas.

O presidente norte-americano tem dito frequentemente que poderia impor mais tarifas à China para além da taxa alfandegária de 25% sobre produtos no valor de US$ 370 bilhões (R$ 2,06 trilhões), não obstante o acordo parcial assinado com o país asiático em janeiro, antes de a COVID-19 atingir os países do Ocidente.

As companhias dos EUA já se queixam dos valores atuais, comenta a Reuters, especialmente tendo em conta o efeito contínuo da pandemia da COVID-19.

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