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'Sua missão era morrer': brasileiro pracinha fez nazistas fugirem da Itália 'como ratos assustados'

Os mais de 25 mil brasileiros que participaram da Segunda Guerra Mundial garantiram a libertação da Itália e fizeram os nazistas, "antes tão valentes", fugirem "como ratos assustados".
Sputnik

Neste mês, a Sputnik Brasil comemora os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial com uma série de reportagens especiais para marcar a tomada de Berlim e a queda da Alemanha nazista.

O Brasil participou ativamente da Segunda Guerra: em 1943, foi criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que convocou cerca de 25 mil militares para combater ao lado dos aliados na Europa, comandados pelo general Mascarenhas de Moraes.

A Sputnik Brasil conversou com o jornalista e escritor Leandro Esteves, que compartilhou a história de seu tio-avô, Oswaldo Lellis, que deu a vida para derrotar o fascismo.

Oswaldo foi voluntário de guerra, e "só conseguiu integrar-se à FEB na terceira tentativa". Leandro conta que os oficiais hesitavam em fazer convocações em massa, porque "conheciam a guerra, mas muitos dos moços brasileiros não sabiam o inferno que era lutar na Europa contra os nazistas e fascistas", contou.

"Oswaldo foi um pracinha, típico 'bucha de canhão', que dava o peito para amortecer as balas dos inimigos."

Descendente de italianos, Oswaldo tinha motivos pessoais para libertar a Itália do regime fascista de Benito Mussolini. "Seus parentes foram presos e perseguidos na Calabria [...]. Sofreram de perto as perseguições movidas por Mussolini a partir de 1922", disse Leandro.

'Sua missão era morrer': brasileiro pracinha fez nazistas fugirem da Itália 'como ratos assustados'

"Mas esse esforço de guerra não é motivado apenas pelas raízes italianas da família. O primeiro ato de guerra foi dos submarinos alemães, que torpedearam navios mercantes brasileiros [...] mataram milhares nesses ataques. Isso revoltou muita gente, inclusive nossa família", explicou.

Finalmente alistado, "Oswaldo desembarga na Sicília" e participa "de todas as principais batalhas, incansavelmente: Monte Castello, Castelnuovo e Montese, que foi o combate que causou mais baixas na FEB em um mesmo dia, em Bolonha", conta, adicionando que seu tio-avô "também combateu em Colleccio e Fornovo di Taro".

Da Itália, Oswaldo enviava cartas à família, nas quais contava como os pracinhas "ludibriavam a cozinha dos americanos e acabavam ficando com duas rações, uma brasileira e outra americana, para dar uma delas para a sofrida população civil".

'Sua missão era morrer': brasileiro pracinha fez nazistas fugirem da Itália 'como ratos assustados'

Oswaldo contava "como os pracinhas faziam para enfrentar o rigorosíssimo inverno dos Apeninos, que, entre 1944 e 1945, chegou a 20 graus negativos. Imagine como um brasileirinho poderia enfrentar aquilo com o pobre equipamento da FEB?", indagou.

"Nas últimas cartas, Oswaldo estava feliz com a iminente vitória e liberação da Itália do jugo nazifascista. Ele escrevia que 'os nazistas antes tão mandões e valentes agora fugiam de nossa presença como ratos assustados'".

Apesar das aventuras, a "campanha da Itália foi a segunda guerra mais mortífera da história brasileira. Nela perdemos mais de 10 mil compatriotas", conta Leandro.

"A campanha teve a liderança militar inconteste do alto comando norte-americano [...] Quando previam batalhas fortes (e as houve o tempo todo – a resistência alemã foi encarniçada) mandavam para a frente os negros e os brasileiros", contou.

"A missão de Oswaldo e seus companheiros era a de morrer, e assim foi."

Nosso pracinha "morreu às portas do Vale do Pó, no norte da Itália", durante operação "para localizar e desarmar minas terrestres".

"Oswaldo recebeu a explosão de uma mina terrestre, deixando intacto apenas pouco de seu corpo, já em maio de 1945. Foi enterrado em Pistoia, região da Toscana", contou Leandro.

"A família aqui no Brasil recebeu com alegria e alívio a notícia do fim da guerra em 8 de maio de 1945. Preparou-se para receber o herói de guerra, Oswaldo Lellis, com uma festa na cidade paulista de Pompéia onde ele era natural [...], mas recebeu apenas as condolências, uma carta do Exército brasileiro, que infelizmente foi rasgada por meu bisavô Feliciano, e uma caixa contendo a Medalha de Sangue do Brasil."

"Meus olhos se enchem d'água sempre que o relembro. Sei que Oswaldo participou e encenou uma tragédia importantíssima para toda a humanidade", conta Leandro.

No entanto, o esforço de guerra dos pracinhas da FEB é pouco reconhecido entre os brasileiros, e muitos "diminuem sua importância, seus feitos e consequências".

"Para muitos [...], o pracinha era um pobre diabo que não sabia o que estava fazendo e sem qualquer poder de influenciar nos destinos do mundo", lamentou.

Mas Leandro, "um órfão da guerra", faz questão de preservar a memória de Oswaldo e aprender com as lições deixadas pela Segunda Guerra Mundial.

Para ele, a guerra "persiste violentamente debaixo do meu nariz. O Brasil pode não 'estourar' a guerra, mas estamos longe da paz", disse.

Oswaldo Lellis nasceu na cidade de Pompéia, no interior de São Paulo, em 1918. Um dos 25.900 pracinhas membros da FEB, morreu na Itália em 1945.

No dia 9 de maio, a Rússia, país aliado do Brasil durante a Segunda Guerra Mundial, comemora os 75 anos da vitória sobre o nazismo.

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