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Analista: economia brasileira não tem como se beneficiar de crise da COVID-19

Eventuais benefícios que produtores brasileiros possam ter com a crise no setor pecuário dos EUA são pouco significativas diante da tendência geral negativa para a economia brasileira no médio prazo, afirma especialista ouvido pela Sputnik Brasil.
Sputnik

A crise desencadeada pelo novo coronavírus vem impactando de maneira bastante significativa a economia dos Estados Unidos, epicentro da pandemia da COVID-19. Um dos setores mais atingidos é o de alimentos, com destaque para a produção de carnes.

Desde o início do surto nos EUA, vários frigoríficos já fecharam as portas, enquanto milhares de trabalhadores adoeceram. Com isso, a expectativa de analistas é a de que os produtores americanos se preocupem mais em atender à demanda interna, abrindo espaço para os concorrentes no mercado internacional, entre os quais se destacam os brasileiros. 

​Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, apesar dessa redução da oferta de alguns produtos norte-americanos no mercado internacional, isso não significa necessariamente um grande ganho para as exportações brasileiras. Isso porque por se tratar de uma crise econômica provocada por uma pandemia, seus efeitos são sentidos em praticamente todos os países.

Em entrevista à Sputnik Brasil, Castro afirma que embora o Brasil já esteja de fato ocupando parte do espaço deixado pelos EUA no mercado de carnes e tenha aumentado a venda de commodities para a China no último mês, o fluxo de mercadorias brasileiras exportadas para outros destinos caiu significativamente, indicando que não há como o país se beneficiar, na prática, dessa crise.

"Todos os países estão em queda de nível de atividade econômica. Alguns, com níveis de desemprego elevadíssimo, caso dos Estados Unidos. E isso faz com que a demanda seja diminuída", afirma o especialista, explicando que apesar de o Brasil se aproveitar da falta de carne americana no mercado, sofre, por outro lado, com a queda na demanda mundial por outros itens com os quais os dois países concorrem, como suco de laranja, soja e milho.

"Então, infelizmente, o coronavírus não deve ajudar o Brasil a aumentar as exportações. Pelo contrário, se nós verificarmos as nossas exportações aqui, no mês de abril, nós tivemos uma queda nas exportações de 4,5%. Ou seja, é uma tendência mundial. Não caiu mais por conta das commodities, por conta da antecipação dos embarques, especialmente em termos de soja."

De acordo com o presidente da AEB, assim como acontece na maioria dos países, a economia do Brasil também se encontra afetada pela pandemia da COVID-19, e, ao contrário da China, não está próxima de voltar à "normalidade". E a expectativa é a de que esse período de redução das atividades econômicas por aqui ainda permaneça por mais algum tempo. 

​A situação interna e a externa são tão ruins que nem mesmo a desvalorização do real frente ao dólar, segundo o analista, está trazendo benefícios reais para as exportações do país hoje. 

"Seriam beneficiados produtos manufaturados, porque as commodities, hoje, já têm um preço por si só competitivo. Então, as empresas, hoje, com a desvalorização cambial, estão apenas aumentando o lucro na exportação de commodities, não conquistando novos mercados. O nosso maior interesse seria aumentar a exportação de produtos manufaturados, mas os nossos principais compradores de manufaturados são da América do Sul, que passam pelo mesmo problema do Brasil, da pandemia do coronavírus, e, além disso, eles têm um menor poder de compra." 

​Os dados atuais da Associação de Comércio Exterior do Brasil mostram uma queda na exportação de produtos industrializados, que, de acordo com Castro, deve se acentuar nos próximos meses. E, na atual conjuntura, a desvalorização cambial "pode significar, no máximo, uma barreira cambial na importação".

"Nesse momento, infelizmente, o cenário não é favorável ao Brasil aumentar as exportações. Ao contrário, a gente tem uma tendência de ter uma queda nas exportações, queda nas importações e queda no superávit comercial também." 

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