Dente de 45.000 anos muda tudo o que sabemos sobre êxodo humano à Europa (FOTOS)

Restos de ser humano moderno de 45.000 anos encontrados nos Balcãs provam que nossos ancestrais coexistiram com os neandertais na Europa por cerca de 8.000 anos.
Sputnik

Um único dente e alguns fragmentos de osso encontrados em uma caverna na Bulgária foram suficientes para demonstrar que o Homo sapiens chegou à Europa há mais de 45.000 anos, ou seja, cerca de 5.000 anos antes do imaginado anteriormente, segundo informa o jornal Haaretz.

Os restos foram encontrados na caverna Bacho Kiro, um labirinto pré-histórico de quatro andares de galerias e corredores de 3.600 metros de comprimento situado na Bulgária, e mostram que o Homo sapiens coexistiu por milhares de anos com os hominídeos autóctones da Europa, os neandertais.

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Trata-se da conclusão chegada por uma equipe internacional de pesquisadores, em um estudo publicado em 11 de maio na revista Nature.

Embora seja improvável que o estudo dissipe o mistério em torno do desaparecimento dos neandertais, ele sugere que a história de como os humanos modernos se expandiram para a Eurásia e substituíram nossos parentes evolutivos é muito mais longa e mais complexa do que se acreditava.

Dente de 45.000 anos muda tudo o que sabemos sobre êxodo humano à Europa (FOTOS)

O debate sobre a extinção dos neandertais e se os Homo sapiens, nossos ancestrais diretos, desempenharam algum papel nefasto nela, tem sido muitas vezes ligado à questão de quando o Homo sapiens moderno teria invadido seu território pela primeira vez.

Até agora, os primeiros vestígios humanos modernos indiscutíveis na Europa tinham sido detectados em Oase Cave, na Romênia, e são de 41.000 atrás.

Como os neandertais estavam praticamente extintos há 39.000 anos, essa cronologia sugeriu que seu declínio foi rápido e que teve lugar pouco depois da chegada dos primeiros humanos modernos na Europa.

"Contudo, estas novas descobertas de Bacho Kiro desafiam esse quadro", afirma Jean-Jacques Hublin, líder da equipe de pesquisadores e chefe do Departamento de Evolução Humana do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, na Alemanha.

Neardentais e Homo sapiens juntos durante 8.000 anos

Os achados demonstram que o Homo sapiens coexistiu com o neandertal na Europa por cerca de 8.000 anos, refere-se no estudo.

Arqueólogos que têm cavado na gruta de Bacho Kiro desde 2015 não têm encontrado esqueletos bem preservados ou fósseis espetaculares.

Contudo, têm aplicado novas e avançadas tecnologias científicas a descobertas anteriores negligenciadas ou descartadas, informa o Haaretz.

Em Bacho Kiro, arqueólogos descobriram um único dente humano e seis fragmentos ósseos pertencentes a hominídeos. Os pedaços de osso eram tão pequenos que não puderam ser identificados pela sua aparência, mas foram estudados usando uma nova técnica que analisa sequências de proteínas em restos de animais e identifica a que espécie pertence.

Dente de 45.000 anos muda tudo o que sabemos sobre êxodo humano à Europa (FOTOS)

Foi assim determinado que o dente – um segundo molar inferior – era de um humano. Para que não restassem dúvidas, o DNA extraído dos restos mortais foi comparado ao material genético do Homo sapiens, neandertais e hominídeos de Denisova.

Resultados confirmaram que os habitantes da caverna tinham sido Homo sapiens, humanos modernos, concluiu-se no estudo.

Recorrendo à datação por radiocarbono, pesquisadores apuraram que os restos tinham 45.000 anos. No entanto, como as ferramentas e ossos de animais ali encontrados eram de 47.000 anos atrás, os arqueólogos não descartam que o Homo sapiens habitasse o local já naquela época, cerca de 8.000 anos antes do desaparecimento final dos neandertais.

Homo sapiens afinal foi pioneiro de artefatos líticos

A equipe também descobriu milhares de ossos de animais, pedras e ferramentas ósseas, contas e ornamentos, especialmente pingentes feitos com dentes de urso de caverna, característicos do período pré-histórico do Paleolítico Superior Inicial.

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A produção de ferramentas em pedra surge pela primeira vez há cerca de 50 mil anos no que é hoje Israel, no deserto do Negev. Depois se espalha pelo Líbano, Turquia e pela Eurásia, até a Mongólia.

Apesar da falta de restos humanos nesses locais, a marcha desse tipo de ferramenta parece acompanhar a dispersão dos humanos modernos da África.

"Até agora tinha sido impossível provar que essas ferramentas foram feitas pelos humanos modernos, mas aqui temos uma clara identificação genética dos habitantes da caverna como Homo sapiens", afirmou Jean-Jacques Hublin ao Haaretz.
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