Como coronavírus mudaria realidade e criaria mundo novo em nosso redor?

A COVID-19 afetou o cotidiano de todo o mundo, com grande parte da população mundial ficando confinada em seus lares. Especialistas explicam como isso pode mudar nossa vida e a tecnologia que usamos.
Sputnik

A pandemia de COVID-19 impactou praticamente todos os aspectos da vida moderna, forçando cada indústria a explorar novas formas de operar e interagir com seus clientes. Algumas mudanças provavelmente se tornarão o "novo normal", dizem observadores internacionais, apresentando suas perspectivas sobre como a pandemia está moldando uma nova realidade.

Depois do coronavírus, o mundo nunca mais será o mesmo, dizem as manchetes globais, retratando uma ampla gama de cenários de realidade pós-pandemia.

Alguns prognósticos são sombrios, prevendo que a pandemia irá inevitavelmente inverter as tendências da globalização e da urbanização, tornando o mundo mais seguro mas muito menos próspero e dinâmico, enquanto outros expressam a esperança de que o surto irá reordenar as sociedades para melhor.

No entanto, as mudanças já estão em curso, e aqueles que conseguirem se adaptar rapidamente a elas atravessarão muito melhor a crise, dizem os observadores internacionais.

Infraestrutura digital

"Os efeitos da COVID-19 são um estudo de caso interessante sobre a enorme disparidade no nosso uso da tecnologia", considera Pranav Pai, engenheiro e sócio fundador da 3one4 Capital, um fundo de capital de risco em fase inicial baseado em Bangalore, Índia.

"Por um lado, distanciamento social, autoisolamento, o uso de máscaras e a lavagem frequente das mãos são formas testadas ao longo do tempo e de baixa tecnologia para ajudar a mitigar a propagação viral", diz à Sputnik Internacional.

"Por outro lado, testes de diagnóstico rápido, telemedicina em grande escala, sistemas de simulação química computacional para o desenvolvimento de medicamentos e transferência direta de capital para os cidadãos a nível nacional são casos complexos de uso de tecnologia que fortaleceram a resposta pandêmica de diferentes nações".

As novas tecnologias provaram sua eficiência durante o surto de COVID-19, e se pode esperar novos avanços na trajetória de digitalização em todo o mundo, de acordo com Pranav Pai.

Ele insiste que nunca houve um argumento mais forte para que a economia de cada país esteja pronta a mover os negócios para sistemas baseados em nuvem. Embora os EUA e a China continuem sendo os líderes neste campo, "é hora de cada país se concentrar na construção de um ecossistema de nuvens nativas", opina o engenheiro.

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"A aglomeração local da infraestrutura de nuvem fortalecerá o futuro digital de cada nação e se tornará uma vantagem comparativa à medida que os dados se tornarem o novo petróleo globalmente", insiste ele.

Telemedicina e gerenciamento da saúde

Muitos países em desenvolvimento que lutam contra a pandemia têm enfrentado um déficit no número de médicos treinados, bem como o uso insuficiente de plataformas digitais para gerenciar o atendimento aos pacientes, aponta o especialista indiano à Sputnik.

Segundo ele, a telemedicina poderia ajudar a preencher essa lacuna: por exemplo, as consultas eletrônicas, que decolaram durante a quarentena do coronavírus na Índia e em outros países, podem melhorar muito o acesso à saúde no futuro. O especialista observa que cerca de 50-60% dos casos poderiam ser diagnosticados dessa forma.

"Além disso, os médicos muitas vezes têm que executar muitas tarefas de rotina como entrada de dados, gerenciamento de pacientes, interface com farmácias, garantindo a existência de equipamentos nas quantidades necessárias e nos locais necessários e assim por diante, algo que vai além de seus deveres médicos", diz o engenheiro.

Pranav Pai acrescenta que a necessidade de automatizar esses procedimentos se tornou altamente relevante durante a pandemia, já que quase todos os hospitais se tornaram um complexo "sistema de gerenciamento de pacientes".

Trabalho à distância e mobilidade urbana

Enquanto isso, o trabalho à distância está se tornando mais comum e redesenhando as rotinas diárias de centenas de milhões de funcionários em áreas urbanas, de acordo com o especialista.

"Não seria surpreendente muitas empresas continuassem com uma política segmentada do WFH [trabalho à distância, working from home] para seus funcionários em uma base rotativa", sugere.

"As viagens de negócios podem não se recuperar rapidamente, com as equipes tendo percebido que são mais produtivas com videochamadas, preferindo evitar os riscos gerais e de saúde das viagens. 'Metodologia ágil' e 'trabalho à distância' podem varrer todo o universo de colarinho branco, levando a dramáticos efeitos de segunda e terceira ordem na forma como vivemos e trabalhamos".

A ideia de "mobilidade urbana" também pode sofrer algumas mudanças: as opções de transporte público não podem garantir segurança sanitária, e mais veículos particulares não são uma alternativa viável, visto que as capacidades rodoviárias já estão sobrecarregadas.

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No entanto, a crise sanitária "pode ser o 'momento iPhone' para frotas de veículos elétricos de um único passageiro 'a pedido' nas cidades do mundo", prevê.

"Com mais governos locais incentivando a instalação e operação de terminais de veículos elétricos de duas rodas em cada grande aglomerado em suas respectivas cidades, os cidadãos terão acesso imediato a mobilidade acessível e sustentável para uma parcela significativa de seus deslocamentos diários", presume o engenheiro indiano.

"Se o distanciamento social for aplicado de forma eficiente, as redes de veículos elétricos serão a resposta mais direta à preferência inevitável por opções de um único passageiro. O que teria levado uma década para as cidades adotarem pode agora se tornar uma possibilidade imediata".

Novas ideias para entretenimento

Embora o mundo em que reentramos na pós-pandemia certamente venha a ser diferente, "o desejo humano por grandes histórias, competição atlética, boa música e notícias objetivas não diminuiu nem diminuirá por causa da pandemia", sublinha Paul Hardart, professor e diretor do programa de entretenimento, mídia e tecnologia da Escola de Negócios Stern da Universidade de Nova York, EUA, à Sputnik.

Hardart acrescenta que a indústria está explorando novas formas de prestar serviços e interagir com seus clientes e comunidades.

"Como as salas de cinema e locais de concertos tiveram que fechar, alguns dos maiores nomes da mídia estão acelerando seus produtos nascentes direto ao consumidor", elabora.

"A NBC/Universal avançou com o lançamento do seu serviço de streaming Peacock e acelerou e/ou pulou completamente a janela teatral para alguns dos seus principais lançamentos cinematográficos. A WarnerMedia lança o HBOMax em duas semanas e a Disney+ tentou atrair novos assinantes com alguns de seus títulos A+, incluindo o muito aguardado filme de performance Hamilton deste verão".

Segundo o professor, muitas destas tendências já estavam ocorrendo antes da pandemia: "A redução da assistência ao teatro, da [televisão por] cabo e a migração para o streaming têm sido tendências há vários anos", observa. Contudo, a pandemia acelerou essas tendências, "provavelmente transformando para sempre o ecossistema da mídia", prevê Hardart.

Comunidades fortes tendem a lidar melhor com as calamidades

O surto de coronavírus está mudando os modelos de negócios globais e a percepção das viagens, mas a ideia geral de "comunidade" social parece ter assumido um novo significado no mundo, segundo Elliott Zaagman, colunista do site de notícias tecnológicas Technode.com, focado na China, e coapresentador do China Tech Investor Podcast, disse à Sputnik.

Ele observa que as regiões onde as comunidades têm sido mais fortes estão sendo também melhores no gerenciamento do vírus.

"Dê uma olhada em Taiwan e na Coreia do Sul, por exemplo", diz ele. "Os dois têm sido aclamados como estando entre os melhores na luta contra o surto. É certo que as ações do governo importam bastante, [mas] o que eles têm mostrado é [que] um senso compartilhado de identidade e comunidade é parte do que os tem ajudado a ter sucesso".

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Da mesma forma, a sociedade civil, as empresas e as instituições governamentais que têm a mente voltada para a comunidade têm se mostrado muito úteis e eficazes, destaca Zaagman.

"Por mais que tenhamos visto o mundo abraçar o conceito de 'aldeia global' nas últimas décadas, esta pandemia tem realmente testado as comunidades locais em todo o mundo", diz ele. "Algumas falharam, enquanto outras passaram com distinção".

A epidemia revelou quais os governos que têm uma compreensão dos grupos populacionais mais vulneráveis, e quais as empresas e indivíduos que mais necessitam de apoio financeiro, de acordo com o colunista.

Da mesma forma, levantou a questão se os ricos sentem a responsabilidade de continuar pagando seus empregados enquanto a recessão impulsionada pela doença os atinge, observa.

"Ao contrário de outras calamidades que o mundo tem enfrentado, a COVID-19 é única em seu impacto global coletivo", concorda Paul Hardart. "Todos nós passamos por algo juntos e, por outro lado, espera-se que possamos vir a ser todos um pouco mais próximos, um pouco mais empáticos e um pouco mais amáveis".

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