Viseiras e escudos faciais podem proteger os trabalhadores que têm contato próximo com outras pessoas contra a infecção por COVID-19, mas podem não impedir que o portador espalhe o vírus.
A utilidade ou inutilidade das viseiras divide a comunidade científica, informa o jornal britânico The Guardian.
Utilidade questionada
Linda Bauld, professora de Saúde Pública na Universidade de Edimburgo, na Escócia (Reino Unido), afirmou que deveria ter sido efetuada uma pesquisa sobre formas alternativas de proteção facial antes de recomendar as viseiras para uso geral.
Viseiras ou escudos são usados por médicos, além de máscaras, para procedimentos de risco em hospitais.
Lojas e serviços de atendimento ao público começaram a disponibilizá-las a seus funcionários e muitos varejistas já as vendem ao público em geral.
Estudo publicado em abril de 2020 na revista norte-americana Journal of the American Medical Association (JAMA) sugeriu que as viseiras "podem oferecer uma opção melhor" do que as máscaras de pano caseiras, cujo uso foi defendido no Reino Unido e em vários estados dos EUA.
No entanto, Bauld mostrou-se cética, afirmando ao The Guardian que a viseira pode não impedir que pessoas infectadas transmitam o vírus para outras pessoas, porque não se encaixam bem sobre a boca e o nariz, pelo que é improvável que façam um trabalho suficientemente bom de conter gotas de ar exaladas pelo usuário.
"A razão para ter uma viseira que cobriria a metade superior de seu rosto somente seria aconselhável se você estivesse entrando regularmente em contato com público e a uma distância muito próxima, podendo ficar exposto a alguém que está emitindo aquelas pequenas gotículas que todos nós sabemos que são muito eficientes em transportar o vírus", afirmou a cientista.
Para Bauld, o segredo está em cobrir a boca e o nariz.
Viseiras faciais podem proteger o usuário, mas não outras pessoas contra a COVID-19
"A cobertura facial que as pessoas estão sendo encorajadas a usar, por exemplo, no transporte público, não é para proteger o usuário, mas para proteger as outras pessoas", acrescentou Linda Bauld, para quem a utilidade da viseira reside em proteger o usuário de entrar em contato com gotículas de terceiros.
Embora tenham sido efetuados diversos estudos sobre as máscaras faciais, frequentemente conduzindo a resultados contraditórios, não existiram pesquisas sobre escudos faciais ou viseiras.
Viseiras aconselhadas
O aludido artigo da JAMA fazia referência a um estudo que constatou que testes efetuados com sujeitos portando viseiras e posicionados a 1,8 metro de uma tosse reduziram em 92% o vírus da gripe inalado, embora esse efeito protetor tenha diminuído após a tosse ter se dispersado por 30 minutos.
Bill Keevil, professor de saúde ambiental da Universidade de Southampton (Reino Unido), afirmou ao The Guardian que as vantagens das viseiras consistiam em proteger os olhos, serem mais fáceis de colocar e lavar, evitarem que as pessoas toquem no rosto, sendo também mais aconselháveis para pessoas com dificuldades respiratórias, como a asma, e que foram instruídas a não usar protetores faciais no Reino Unido.
"Você pode ver como, de certa forma, isso daria melhor proteção ao usuário e pode – eu só digo que pode – ajudar a reduzir a transmissão para terceiros, porque o que você produz não está sendo projetado para muito longe de seu rosto", afirmou Keevil.
Além disso, os escudos faciais e viseiras parecem ser mais fáceis de fazer do que máscaras médicas e cirúrgicas de alta especificação, como foi evidenciado por uma série de universidades britânicas que as fabricam, inclusive através de uso da impressão 3D.
Nos EUA, empresas como Amazon, Apple, Nike e General Motors já estão fabricando viseiras, estando as vendas por enquanto reservadas a profissionais de saúde, somente sendo disponibilizadas ao público em geral depois de satisfeitas as necessidades dos primeiros.
Embora reconhecendo alguns elementos positivos no uso de viseiras e escudos, Bauld não deixou de se questionar por que razão as viseiras não são vistas em regiões do mundo que estão na vanguarda no controle da infecção, como a República de Singapura e a Região Administrativa Especial de Hong Kong (China).
Viseiras faciais podem não impedir pacientes infectados de espalhar o coronavírus, alerta especialista em saúde pública
"Isso não está acontecendo, certo?", disse ela. "Então este é um equipamento de proteção adicional para ambientes específicos", acrescentou Bauld.
"Penso que ainda estamos longe de poder recomendar às pessoas o uso generalizado de viseiras plásticas", concluiu.
Já Keevil crê ser possível que as viseiras possam começar a ser usadas extensivamente, mais que não seja por as pessoas poderem começar a questionar o uso das máscaras:
"Alguns podem começar a pensar: 'Por que estou andando com uma máscara de pano caseira?'", disse ele.