EUA estão dispostos a continuar minando acordos militares e políticos, diz especialista

EUA notificaram oficialmente a Rússia hoje (22) da retirada do Tratado de Céus Abertos, acusando Moscou de violar os termos do acordo. Especialista militar russo comentou a decisão, suas razões e consequências.
Sputnik

"Hoje, no Ministério das Relações Exteriores recebemos uma nota oficial da Embaixada dos EUA declarando que o governo dos EUA decidiu iniciar o procedimento de retirada do Tratado de Céus Abertos", informou Sergei Ryabkov, vice-ministro das Relações Exteriores.

Segundo The New York Times, a Casa Branca acusou a Rússia de ser responsável pela retirada norte-americana do acordo por incumprimento dos termos do convencionado. O mesmo jornal cita alegados relatórios secretos do Pentágono e da inteligência americana insinuando que Rússia poderia estar usando o tratado para monitorar infraestruturas estratégicas dos EUA e arquitetar possíveis ciberataques.

No entanto, o jornal não apresenta documentos nem refere quaisquer pormenores comprovativos, mas aponta que a retirada deste tratado causará descontentamento entre os aliados europeus de Washington, incluindo os parceiros da OTAN que participam deste acordo.

Contudo, Donald Trump acabou por não descartar que a decisão possa ser alterada se Moscou se comprometer a seguir o estipulado pelo acordo. A Rússia teria prontamente rejeitado as acusações.

Por que EUA rasgam acordos?

O especialista militar Aleksandr Zhilin explicou ao serviço russo da Rádio Sputnik por que a administração dos EUA está deliberadamente buscando um desalinhamento na esfera da segurança internacional.

Para Zhilin, as notícias vindas da capital norte-americana são extremamente negativas para a comunidade mundial.

"Infelizmente, os Estados Unidos estão destruindo todos os acordos fundamentais que têm garantido a segurança no mundo. Tudo isso é triste porque o mundo está sendo privado de pontos de referência básicos em termos de direito internacional", referiu o especialista, que aponta igualmente o perigo do surgimento de novas armas.

"A colocação de armas no espaço não visa apenas a capacidade de atingir alvos terrestres. Eles também planejam atuar sobre o campo magnético da Terra. Ninguém sabe como isso vai acabar. A comunidade internacional deve reagir a isso com uma resposta dura e clara", afirmou Aleksandr Zhilin.

O especialista também desconfia que a retirada dos EUA de mais um acordo pode significar que Donald Trump não tem intenção de prolongar o Tratado de Redução de Armas Estratégicas (START III), que expira em 2021.

START II pode ser o 4º a ser rompido

Vale recordar que este é o terceiro acordo de controle de armas de que os EUA se retiram durante a administração Trump, após a saída do pacto internacional sobre o programa nuclear do Irã e do tratado sobre mísseis terrestres de médio alcance.

"Tenho mais que certeza que os norte-americanos também estão torpedeando o Tratado START III. A Rússia não pode fazer frente a isto sozinha. Precisamos de uma posição conjunta dos países que realmente se preocupam com sua segurança nacional", opinou Zhilin.

Contudo, o especialista considera estranho o comportamento de certos países, como a Polônia, que poderá permitir que os EUA instalem armas nucleares em seu território.

Urge resposta firme da comunidade internacional

"Penso que a Rússia vai trabalhar no âmbito da ONU e apresentar iniciativas para atrair outros países para o seu lado a fim de deter este processo extremamente perigoso", acredita o especialista militar.

O Tratado de Céus Abertos está em vigor desde 2002 e permite que 34 países participantes coletem abertamente informações sobre as Forças Armadas e atividades militares uns dos outros.

O princípio que preside ao tratado é de que quanto mais os exércitos rivais se conheçam mutuamente, menor a chance de conflito entre eles.

Comentar