O quarto planeta a partir do Sol pode ser um dos mundos mais próximos de nós – oscilando a distâncias de entre 55 milhões e 400 milhões de quilômetros, dependendo da sua localização e da posição da Terra em relação à nossa estrela – mas frequentemente é muito mais seguro e certamente menos caro investigar o Planeta Vermelho através de simulações na Terra, em vez de lançar uma nave espacial.
Estudar Marte simulando na Terra
Foi essa a opção tomada por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Tóquio, que se embrenhou profundamente no Planeta Vermelho, mas em plena Terra, relatou em 22 de maio o portal astronômico Space.com.
A equipe, liderada por Keisuke Nishida, imitou as condições do núcleo superior de Marte com ajuda de uma liga fundida de ferro e enxofre, que foi elevada a uma temperatura de 1.500 °C.
Comprimindo a mistura fundida sob uma pressão de 13 gigapascais usando uma prensa multibigorna, os cientistas foram capazes de medir a atividade sísmica.
Neste caso, Nishida captou ondas P viajando a uma velocidade de 4.680 metros por segundo através da liga e obteve imagens da ação usando raios X de duas instalações de radiação sincrotron: a Photon Factory e a SPring-8, ambas no Japão.
No experimento, os cientistas detectaram os efeitos das ondas P e ondas S.
Capaz de percorrer através da rocha a uma velocidade 13 vezes superior à do som pelo ar (343 metros por segundo), a Onda P proporciona o primeiro abalo do fenômeno que abala a terra.
As ondas S – também chamadas de ondas secundárias – são responsáveis, por sua vez, pelo segundo estremecimento durante um terremoto, podendo ser usadas para estimar a distância ao epicentro do sismo.
Experimento demorado, mas bem-sucedido
"Devido a obstáculos técnicos, levou mais de três anos até que pudéssemos coletar os dados ultrassônicos que precisávamos, então estou muito satisfeito por os obtermos agora", congratulou-se Nishida, citado pelo Space.com.
"A amostra é extremamente pequena, o que poderia surpreender algumas pessoas, dada a enorme escala do planeta que estamos efetivamente simulando", salientou, acrescentando, contudo, que experimentos de alta pressão em microescala ajudam à exploração de estruturas macroscópicas e à definição da história evolutiva dos planetas.
O alívio de Nishida por haver logrado coletar os dados é compreensível por há muito se suspeitar que Marte possua um núcleo feito de enxofre e ferro, refere o portal.
Não sendo possíveis no imediato observações diretas no próprio planeta, dado que observações diretas ainda não são possíveis, a simulação das ondas sísmicas permite viajar pelo interior de um planeta, proporcionando um vislumbre de seu âmago.
Insuficiências da InSight Mars da NASA
Uma sonda da NASA, a InSight Mars da NASA, pousou em Marte em 2018, procurando por atividade sísmica para se saber mais sobre o interior do planeta e como se formaram os planetas rochosos interiores do Sistema Solar.
Contudo, e de acordo com Nishida, há que ter algum cuidado na análise dos dados recolhidos pela InSight, pois "falta uma informação importante, sem a qual os dados não podem ser interpretados".
"Precisávamos conhecer as propriedades sísmicas da liga ferro-enxofre que se pensa formar o núcleo de Marte."
Recorrendo às pesquisas de Nishida e de sua equipe, os astrônomos estão agora aptos, analisando os dados sísmicos, a descobrir se o núcleo de Marte é composto principalmente de enxofre-ferro.
"Se não for, isso nos dirá algo sobre as origens de Marte", disse Nishida. "Por exemplo, se o núcleo de Marte inclui silício e oxigênio, isso sugere que, assim como a Terra, Marte sofreu um enorme impacto ao se formar. Então, de que é feito Marte e como se formou? Acho que estamos prestes a descobri-lo", garantiu o astrônomo japonês.