Escondidos por judeus há quase 2.000 anos, os Manuscritos do Mar Morto contêm alguns dos mais antigos fragmentos conhecidos da Bíblia hebraica, tendo sido descobertos nas cavernas de Qumran, que ficam perto de Jerusalém, na Cisjordânia, por tribos beduínas.
Arqueólogos que se apressaram ao local não viram interesse em alguns desses pergaminhos, aparentemente em branco, acabando por os doar, informa o portal SmithsonianMag.
No entanto, há alguns anos, uma equipe de pesquisadores se propôs estudar artefatos das cavernas de Qumran que foram dispersos por museus e coleções ao redor do mundo.
"Nos primeiros tempos da pesquisa, nos anos 50 e 60, os arqueólogos por vezes doavam muitos artefatos, geralmente cerâmicas, para museus colaboradores como presentes", contou ao SmithsonianMag Dennis Mizzi, professor sênior de hebraico e judaísmo antigo da Universidade de Malta e líder da equipe de arqueólogos.
Benefícios das novas tecnologias
Os arqueólogos vêm evoluindo cada vez mais em seu trabalho, recorrendo a avançadas tecnologias que possibilitam fazer descobertas que antes eram impensáveis. Por isso, Mizzi e sua equipe, fazendo uso dessas novas tecnologias, acharam que seria útil reanalisar parte do material disperso.
Nunca se sabe o que se vai encontrar quando se olha duas vezes para textos antigos. Escrita encontrada em fragmentos em "branco" dos Manuscritos do Mar Morto
Assim, encontraram papiro decomposto que anteriormente se pensava ser esterco de morcego e tecidos usados para embrulhar pergaminhos que tinham sido armazenados em uma caixa de charutos. Mas nunca lhes ocorreu procurar por textos perdidos, refere o SmithsonianMag.
Na sua busca pelos artefatos, depararam-se com uma coleção de pergaminhos, supostamente sem nada escrito, dos Manuscritos do Mar Morto doados na década de 1950 pelo governo jordaniano a um especialista em couro e pergaminho da Universidade de Leeds (Reino Unido).
Essa coleção seria mais tarde doada à Universidade de Manchester (Reino Unido) em 1997 e permaneceu em depósito na Biblioteca John Rylands desde então.
Olho de falcão
Ao examinar um fragmento supostamente em branco daquela coleção, a pesquisadora Joan Taylor, do londrino King's College e colaboradora de Mizzi, pensou ver os ténues traços de um lamed – a letra "L" hebraica.
Seguindo o palpite, 51 fragmentos aparentemente em branco maiores que um centímetro foram fotografados. A equipe utilizou imagens multiespectrais, uma técnica que captura diferentes comprimentos de onda do espectro eletromagnético, incluindo alguns invisíveis a olho nu.
Revelação: quatro fragmentos dos Manuscritos do Mar Morto, do acervo da Biblioteca John Rylands, supostamente em branco… contêm mesmo texto!
Taylor, Mizzi e restante equipe ficaram surpresos quando obtiveram os resultados e viram linhas de texto óbvias em quatro dos fragmentos.
Neles foram encontradas palavras hebraicas como Shabat que, segundo Mizzi, podem pertencer ao livro de Ezequiel.
No entanto, ele e seus colegas estão apenas começando a interpretar os fragmentos, sendo ainda muito cedo, segundo o especialista, para especular sobre seu significado.
"Ainda estamos trabalhando para descobrir as letras que são visíveis nos fragmentos", afirmou Mizzi, citado pelo SmithsonianMag.
A equipe quer realizar testes complementares para elucidar os aspectos físicos dos artefatos, incluindo a composição da tinta e a produção do pergaminho.
Perspectivas futuras
É raro aparecerem trechos de texto novos e autênticos dos Manuscritos do Mar Morto. Felizmente, estes fragmentos têm uma história bem documentada e sua autenticidade é indubitável.
Os pesquisadores sabem que eles foram encontrados na Caverna 4 em Qumran, onde a maioria dos Manuscritos do Mar Morto foi achada junto com milhares de fragmentos de cerca de 500 textos.
Para Robert Cargill, professor da Universidade de Iowa (EUA), esta descoberta deveria servir de "lembrete da importância de objetos comprovados que podem não parecer sensacionais à primeira vista", afirmou ao SmithsonianMag.