Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a crise econômica provocada pelo novo coronavírus causou impacto intenso na atividade industrial. Dados de uma pesquisa feita em março mostram que a queda da demanda forçou uma redução sem precedentes da atividade industrial, que levou a utilização da capacidade instalada ao menor nível já registrado na série mensal, iniciada em 2010.
Para o gerente-executivo de Economia da CNI, Renato da Fonseca, a crise atual não tem precedentes e, no caso da indústria, o mês de abril significou assustadores 50% da capacidade ociosa no país. As incertezas seguem elevadas, tanto que o índice de confiança dos industriais é o menor já registrado. A única certeza no momento é a expectativa pela ajuda de Brasília.
"As empresas estão sem receitas, mas continuam com despesas do dia a dia, como pagamento de salários, pagamento de aluguel, os fornecedores. A gente não tem ainda um número de empresas que deixaram de funcionar, ou seja, entraram em falência [...]. É muito importante a entrada do governo na questão do financiamento. Esse é um dos grandes entraves que estamos enfrentando agora. As linhas de financiamento não estão chegando nas empresas e, para isso, o governo tem que entrar com garantias do Tesouro Nacional para que as instituições financeiras, sejam públicas ou privadas, repassem esses recursos às empresas sem medo de insolvência", afirmou Fonseca à Sputnik Brasil.
Assim como na grande maioria de países com parques industriais, o Brasil sofreu com a pandemia em duas frentes básicas: a do fluxo internacional de mercadorias, que inviabilizou as importações de insumos em vários setores da indústria e paralisações de linhas de produção, e a redução da demanda, uma vez que o poder de compra e o consumo diminuíram consideravelmente.
O gerente executivo de Economia da CNI destacou à Sputnik Brasil que "nove entre dez empresas industriais foram afetadas negativamente pela crise" no país, e que os setores de bens de consumo duráveis (móveis, calçados, vestuário, automóveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos) foram mais afetados. Na linha inversa, a área de bens de consumo não duráveis (alimentos, remédios, produtos de higiene) sofreram um pouco menos.
Contudo, a incerteza a respeito da duração da pandemia em solo brasileiro já está causando estragos mesmo nas indústrias que conseguiram fugir do baque inicial, conforme explicou o gerente de Estudos Econômicos da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Jonathas Goulart.
"A gente pode dizer que os setores vão sentindo os efeitos em tempos e movimentos diferentes. Então, em um primeiro momento em que tínhamos, por exemplo, uma indústria de produtos alimentícios que estava conseguindo ter bons resultados apesar da crise agora já começa a sentir os efeitos dessa crise conforme a demanda vai caindo em razão da crise econômica", comentou ele à Sputnik Brasil.
A necessidade de ajuda governamental é vista pelos dois especialistas como fundamental para manter e reanimar o setor industrial brasileiro. Além da dificuldade de obter financiamento junto a bancos públicos e privados, os industriais brasileiros ainda se veem diante de um afrouxamento das medidas de distanciamento social em outros países, algo que pode impactar o Brasil.
"Essa crise é uma crise internacional, então ela afeta o mundo e afeta também as relações do Brasil com os demais países. E essas relações vão sendo afetadas na medida em que cada país for diminuindo as suas medidas de distanciamento social, controlando a disseminação da doença, então não será uma coisa uniforme. A gente vai ter no resto do ano e, possivelmente no início do ano que vem, um mundo diferente", afirmou Renato da Fonseca.
Para ele, as empresas adotarão novos modos de produção para diminuir o impacto da COVID-19 em seus setores. E não é só. O gerente-executivo de Economia da CNI alertou que o consumidor também deverá ser cauteloso até pelo menos o início de 2021, o que também terá impacto nas projeções econômicas. E no pessimismo dos industriais com o futuro.
"Enquanto os empresários não tiverem uma ideia de quando se dará o fim dessa pandemia e os efeitos econômicos provenientes dela, a gente não tem uma perspectiva de uma melhora da atividade econômica", acrescentou Jonathas Goulart.