Infecções dos ouvidos de 15.000 anos descobertas em tumbas funerárias

Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv descobriram evidências de infecções de ouvido em restos mortais de seres humanos antigos ao estudarem crânios de habitantes do Levante de há cerca de 15.000 anos.
Sputnik

Levante designa uma região geográfica que historicamente corresponde a uma grande área do Oriente Médio ao sul dos Montes Tauro, limitada a oeste pelo Mediterrâneo e a leste pelo deserto da Arábia setentrional e pela Mesopotâmia, excluindo a Península Arábica, o Cáucaso e a Anatólia.

Conhecer influência do sedentarismo

Hila May, que liderou a equipe, explica que o objetivo inicial da pesquisa era avaliar se a saúde humana se tinha deteriorado desde o advento da agricultura, como muitos defendem, segundo relata o portal científico Heritage Daily.

Para isso, precisavam de uma doença que deixasse marcas nos ossos. A título comparativo, a gripe e o coronavírus não deixam sinais nos ossos, ao contrário da infecção crônica do ouvido médio. Além disso, esta é extremamente comum.

"Nossa pesquisa procura determinar o impacto de nosso meio ambiente sobre as doenças em diferentes períodos", prosseguiu May. "Utilizando tecnologias avançadas e métodos únicos desenvolvidos em nosso laboratório, conseguimos detectar sinais de inflamação prolongada no ouvido médio."

Os cientistas detectaram um declínio da mortalidade pela doença após a transição da caça e coleta para a agricultura. Contudo, verificaram um pico da infecção em uma população sedentária que viveu cerca de 6.000 anos atrás, no período Calcolítico, refere o Heritage Daily.

Para Hila May, a razão para isso foi dupla: social e ambiental.

May adiantou que eles ficaram sabendo, "por escavações arqueológicas deste período, semelhantes aos períodos anteriores, que as pessoas viviam em uma área comunitária [casa] onde decorriam todas as atividades, desde a cozinha até a criação de gado. Como resultado, a densidade populacional na 'casa' era alta, a higiene precária e eles sofriam com a poluição do ar interno".

Fatores decisivos

Prosseguindo seu raciocínio, May afirmou que dois outros fatores, como a mudança alimentar, com o advento do consumo de laticínios, e as alterações climáticas, traduzidas em uma queda da temperatura e em um aumento das chuvas, "também contribuíram para a prevalência de infecções nos ouvidos".

Descobertas infecções de ouvido em restos mortais de humanos que viviam no Levante há 15.000 anos

Até a chegada dos antibióticos no século XX, as infecções de ouvido adquiriam carácter crônico, podendo levar à perda permanente da audição ou mesmo à morte.

"Uma infecção prolongada no ouvido causaria danos permanentes à parede óssea do ouvido médio, que é preservada até a idade adulta", pelo que, quando se procura estudar as mudanças na saúde em determinada comunidade e ao longo do tempo, "optamos por nos concentrar nas infecções do ouvido, desenvolvendo um método especial para isso", precisou a líder da equipe de cientistas.

Os cientistas inseriram um videoscópio, uma pequena câmera montada na extremidade de um tubo flexível, através do canal auditivo do crânio até o ouvido médio para observar suas paredes ósseas.

Além disso, os pesquisadores escanearam o crânio com um aparelho de microtomografia de alta resolução e examinaram a parede óssea do ouvido médio usando um microscópio óptico.

Conclusões e ilações

Os pesquisadores determinaram que à medida que condições de vida melhoravam, as mortes por infecções de ouvido decaiam.

"As casas eram maiores e tinham várias salas, incluindo áreas separadas para atividades específicas, ou seja, a cozinha era montada em uma sala separada ou fora dela e o gado era mantido em uma área separada", afirmou.

Hila May não tem dúvidas que mudanças "no estilo de vida e no clima se refletem em uma diminuição da morbilidade", não deixando de apontar a atualidade do estudo:

"Entender como as doenças aparecem, se espalham e desaparecem ao longo da história humana pode ajudar a prevenir e encontrar soluções para as doenças contemporâneas."

A título de conclusão ela refere que "tanto nas infecções de ouvido quanto na COVID-19, o distanciamento social e uma melhor higienização reduziram a disseminação da infecção, enquanto que em ambientes próximos e condições de vida pouco salubres as infecções aumentaram".

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