Na manhã da missão, em 7 de junho de 1981, antes de decolar no jato F-16 de fabrico norte-americano que bombardearia Osirak, o reator nuclear iraquiano, o piloto Zeev Raz não sentiu medo. Sentiu, isso sim, a enorme responsabilidade que recaía sobre seus ombros.
"Havia muita tensão. Quando você é o piloto principal, é totalmente diferente. Você não pensa em sua vida ou na família que está deixando para trás. Tudo em que você se concentra é na logística e no alvo", afirmou Zeev Raz.
Localizado a mil quilômetros de Israel e a 17 quilômetros a sudeste de Bagdá, Osirak era considerado uma séria ameaça para Israel, cuja liderança suspeitava que as armas de destruição em massa ali em desenvolvimento seriam usadas contra o Estado judaico.
O Iraque negava as acusações, garantindo que a instalação tinha unicamente fins pacíficos.
Missão impossível?
Mas chegar ao local com oito jatos de fabrico norte-americano, cada um carregando duas bombas de uma tonelada, não era uma tarefa nada fácil.
Raz e a sua equipe de sete pilotos tiveram que superar uma série de dificuldades antes de chegar ao destino, a começar por sérias dúvidas sobre se o combustível seria suficiente para ir e vir.
Quando, em 1981, o então premiê israelense Menachem Begin tomou a decisão de atacar, Israel não estava ainda apto a reabastecer em voo, o que só viria a acontecer um ano depois.
Tampouco podiam parar no caminho para Bagdá, pois a rota passava por países que não tinham relações diplomáticas com Tel Aviv.
Contudo, adiar a operação não era uma opção, por o reator estar quase a entrar em funcionamento. Caso isso acontecesse, a repercussão do bombardeio seria devastadora para o meio ambiente e causaria enormes perdas humanas.
"É por isso que precisávamos aproveitar a oportunidade e atacar", lembrou Raz, acrescentando que estava convicto de que encontrariam na ida ou na vinda muitos jatos iraquianos.
Voo tranquilo
Apesar de o ataque ter sido realizado em meio à violenta guerra Irã-Iraque, que pressuporia um alto nível de alerta entre os iraquianos, seu sistema de defesa aérea deixava muito a desejar, não tendo os F-16 se deparado com qualquer oposição.
Nem mesmo o fato do reator já ter sido atacado um ano antes pelos iranianos fez Bagdá aumentar a segurança em torno da instalação, uma falha explorada pelos israelenses.
"Eles simplesmente não estavam prontos, o que foi espantoso. Eu estava convicto de que eles nos interceptariam 15 minutos antes da operação ou certamente na nossa saída", relatou Raz, cujos comandantes deram instruções e dinheiro iraquiano para que os pilotos pudessem se ejetar e sobreviver caso seus jatos fossem abatidos.
A operação foi bem sucedida, graças aos bons dados de inteligência, aliados a meses de excelente treinamento e meticulosos preparativos e cálculos, confidenciou Raz.
Ataque valeu a pena?
A operação seria alvo de condenação internacional, quer pelo fiel aliado EUA, quer pela ONU, que aprovou uma resolução contra Tel Aviv, criticando Israel pelo ataque, o assassinato de dez soldados iraquianos e um civil francês.
A missão acabaria igualmente por minar as relações bilaterais de Israel com a França, que tinha construído o reator iraquiano, e atraiu igualmente críticas da imprensa internacional.
O Iraque nunca viria a reconstruir o reator e, em 2010, equacionou processar Israel pelas perdas sofridas em resultado da operação.
A importância da missão também reside no fato de ter sido a primeira vez que legisladores israelenses autorizaram uma tal operação, criando um precedente para futuros governos.
Raz acredita que a solução para o Oriente Médio não passa pela guerra mas sim pela paz, "como fizemos em 1979 e 1994", se referindo aos acordos de paz com o Egito e a Jordânia.
Contudo, acha que "as consequências de não bombardear aquele reator poderiam ter sido terríveis para Israel", concluiu.