A OPEP+ realizou no sábado (6) uma reunião que foi seguida atentamente pelos EUA, não menos que os tumultos que já levaram à criação de cercas em torno da Casa Branca.
A situação da OPEP+ parecia desesperada à primeira vista, pois qualquer corte na produção que subisse os preços do petróleo para os exportadores levaria a um renascimento do setor de petróleo de xisto norte-americano, que tem reduzido drasticamente os volumes de perfuração nos últimos meses.
O número de poços de petróleo em exploração nos EUA está em seu nível mais baixo desde 1975, à medida que o boom do xisto betuminoso decresce, informou o portal World Oil no mês passado. Citando dados da companhia Baker Hughes, foram desativadas 53% das plataformas ativas de perfuração de petróleo e gás dos EUA em apenas oito semanas.
"Os ministros do Petróleo da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, bem como de outros países produtores de petróleo liderados pela Rússia [...] concordaram em continuar a reduzir a produção em 9,7 milhões de barris por dia, ou cerca de 10% da produção global, até julho", relata o diário The New York Times.
Segundo o acordo original de 12 de abril da OPEP+, a produção deveria aumentar gradualmente após junho, lembra.
"O reconhecimento de que cortes profundos deveriam ter continuado por um mês, ou possivelmente mais, mostra que, apesar da recente alta dos preços do petróleo, os grandes produtores de petróleo continuam preocupados com a possibilidade de o mercado petrolífero despencar novamente", diz o jornal.
Danny Brouillette, secretário da Energia dos EUA, reagiu com entusiasmo aos resultados das negociações da OPEP+.
Aplaudo a OPEP+ por ter hoje [6] chegado a um acordo importante, aprovado em um momento chave em que a demanda de petróleo continua se recuperando e a economia está reabrindo em todo o mundo.
Os jornalistas da agência Bloomberg concluíram que os produtores de óleo de xisto nos EUA deveriam estar preocupados, pois a OPEP+ aparentemente conseguiu desenvolver uma nova forma de expandir sua participação no mercado, conjugada com a subida de preços e o crescimento limitado da recuperação das empresas de petróleo de xisto.
Os dois principais riscos para a OPEP+ foram que alguns países não estão cumprindo suas obrigações, e os produtores de xisto betuminoso, cujos níveis de produção estão diminuindo devido a fatores de mercado, podem voltar a encher o mercado com petróleo barato.
Também segundo a Bloomberg, os países-membros da OPEP+ que violaram o pacto de redução da produção estariam comprometidos a compensar sua "indisciplina" com cortes adicionais no futuro, resolvendo assim a questão.
Truque à vista?
Além disso, os especialistas da aliança petrolífera também estão realizando uma manobra contra os produtores de xisto:
"Um olhar mais atencioso revela mudanças sutis que indicam que a Arábia Saudita, a Rússia e seus aliados da OPEP+ [...] estão tentando inverter a forma da 'curva dos preços do petróleo' [...] a colocando de cabeça para baixo."
O cartel do petróleo tem usado em grande parte as "receitas" dos melhores bancos centrais do mundo, onde os estrategistas muitas vezes se concentram na interação entre as taxas de juros de longo e curto prazo.
Assim, a organização está desenvolvendo uma estratégia para influenciar os preços petrolíferos a curto prazo ao invés dos preços a longo prazo, segundo um dos negociadores da OPEP+.
Estes passos são importantes porque as empresas petrolíferas determinam os preços tendo em conta não só os preços atuais, mas também os preços nos meses e até anos futuros, que formam justamente a "curva de preços do petróleo" referida pela Bloomberg.
O petróleo cru é frequentemente vendido com base em contratos de relativamente curto prazo, enquanto muitos produtores de xisto preferem definir preços mais cedo para exportar o petróleo em prazos mais longos, a única forma de obterem financiamento e se manterem rentáveis em meio à falência de muitas empresas de xisto betuminoso.
Assim, se a tática da OPEP+ funcionar, os preços do petróleo no curto prazo trarão lucros aos países da OPEP+, incluindo a Rússia, e será muito difícil para as empresas de óleo de xisto atrair capitais para restaurar a perfuração de poços de xisto. Se isso se concretizar, os EUA deverão fazer algo mais que punir os "culpados" para compensar ou inverter o desenvolvimento do setor.