Relações complicadas: por que a Coreia do Norte cortou comunicações com Seul?

Apesar de encontros entre os líderes sul e norte-coreanos, a situação na península parece não melhorar, enquanto Pyongyang anunciou o corte das comunicações com Seul.
Sputnik

Em 1971, ambas as Coreias instalaram em Panmunjom, na Zona Desmilitarizada, uma linha telefônica criada para discutir questões diplomáticas, de transporte, econômicas e políticas entre ambos os países.

Desde então, a comunicação foi cortada por inúmeras vezes, tanto pelo Norte quanto pelo Sul, atraindo a atenção da comunidade internacional.

Em recente comunicado, Pyongyang disse que "não vê sentido em conduzir negociações com a Coreia do Sul", conforme publicou a agência KCNA. Para o Norte, as relações intercoreanas chegaram a um ponto final.

"As autoridades da Coreia do Sul vão pagar caro se deixarem tudo como está", afirmou Kim Yo-jong, irmã do líder Kim Jong-un, que tem sido cotada por muitos para suceder ao líder, caso seja necessário.
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'Não existe motivo'

Apesar das duras palavras da Coreia do Norte, seu vizinho ao sul não acredita que Pyongyang tenha cortado totalmente a comunicação.

"As linhas de comunicação intercoreanas devem ser mantidas em conformidade com o acordo, porque são os meios fundamentais de comunicação", publicou a CNN citando o Ministério da Unificação da Coreia do Sul.

Apesar da descrença, as duas tentativas de se comunicar com o Norte após o anúncio do corte fracassaram pela primeira vez em dois anos.

Em março de 2013, o Sul também não conseguiu estabelecer contato após a condução de exercícios militares conjuntos com os EUA. Na ocasião, a ONU havia aplicado sanções contra a Coreia do Norte devido a testes nucleares.

Três anos depois, em 2016 foi a vez da Coreia do Sul cortar a comunicação devido a testes nucleares do Norte. Porém, em 2018 novo diálogo foi estabelecido pela linha telefônica sobre a possibilidade dos atletas de ambos os países entrarem juntos na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2018. Contudo, tal fato não ocorreu.

Panfletos da paz ou da discórdia?

Logo depois, em abril de 2018, ocorreu uma cúpula intercoreana, a primeira em 11 anos e a terceira na história dos dois países.

Por décadas ambas as partes competiram em propaganda na fronteira, tanto o Norte quanto o Sul, mas um clima de "cessar-fogo" surgiu.

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No entanto, esse ambiente durou somente dois anos, quando dissidentes do Norte decidiram lançar balões ao norte, a partir da Zona Desmilitarizada, com milhares de panfletos criticando Pyongyang.

A ação foi repetida dez vezes em 2019 e três vezes neste ano, seguida de descontentamento no Norte.

Devido ao grande volume do material usado nas ações, a Coreia do Norte suspeitou que os dissidentes tivessem recebido algum apoio.

"Os norte-coreanos levantaram essa questão, mas os sul-coreanos se justificaram dizendo que [a Coreia do Sul] é democrática, e que não se pode simplesmente proibir as pessoas de fazerem alguma coisa", declarou à Sputnik o especialista em estudos coreanos da Academia de Ciências da Rússia Konstantin Asmolov.

Minando os projetos econômicos do Norte

Além dos panfletos, a recente insatisfação do Norte também parece ter origens econômicas.

A Coreia do Sul examina meticulosamente todos os projetos comerciais devido às sanções internacionais, se esforçando para não fazer entrar na Coreia do Norte produtos de duplo uso.

"Pyongyang já repetiu diversas vezes que é necessária uma cooperação real, e não acordos de cavalheiros ou um evento solene dedicado ao evento solene anterior. Não existe avanço na aproximação. E a responsabilidade não deve ser atribuída só ao Norte", acrescentou Asmolov.

Situação sem retorno?

Apesar das tensões, o especialista Aleksandr Vorontsov, do Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia, acredita que o cenário não é tão grave quanto parece.

"Tudo faz parte do cenário geral das relações intercoreanas: isso são 'combates de importância local', uma verificação do quão longe pode ir o outro lado. A situação é reversível, não há nada de grave do ponto de vista das ações político-militares. O mais importante é não permitir uma escalada do conflito", afirmou Vorontsov.

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