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Especialista: liberação do FGTS ameniza crise mas pode não ser suficiente para retomada da economia

Para amenizar os impactos na economia causados pela COVID-19, o governo, através da medida provisória de 7 de abril, decidiu liberar novos saques de contas ativas e inativas do FGTS. O valor poderá chegar a R$ 1.045,00 por trabalhador.
Sputnik

Esta semana o governo informou que o depósito será realizado entre 29 de junho e 21 de setembro. Caixa deve liberar os valores em poupanças digitais abertas pelo banco. O calendário depende do mês de nascimento do trabalhador. Durante a primeira fase apenas pagamentos de boletos e compras online serão permitidos com os recursos.

O saque livre do dinheiro deverá ser liberado entre os dias 25 de julho e 14 de novembro. Nesse caso, o trabalhador poderá sacar o saldo ou transferi-lo para outra conta.

Para Gilberto Braga, economista, professor do Ibmec-Rio e da Fundação Dom Cabral, a liberação do recurso é muito importante para a economia brasileira e será um reforço de grande ajuda para a população de baixa renda e trabalhadores em geral.

"Esse saque é um recurso que já pertence ao próprio trabalhador e ele tendo esse valor na sua conta vinculada poderá fazer a liberação. Isso vem se somar a mais uma das iniciativas para tentar menorar as dificuldades causadas pela pandemia da COVID-19. Não se trata, portanto, de um dinheiro do governo, mas um dinheiro que está nas mãos do governo, mas é de propriedade do próprio trabalhador", explicou Gilberto Braga à Sputnik Brasil.

O recurso, criado para situações de aposentadoria e de emergência, é tradicionalmente liberado para os atingidos. Ou seja, o uso do fundo, neste caso, também cumpre a sua função e a decisão do governo foi acertada, acredita o economista.

Para o entrevistado, a liberação desses recursos, em conjunto com a medida do auxílio emergencial, está possibilitando a manutenção do funcionamento do comércio e garante a sobrevivência das camadas mais afetadas da população.

"Isso faz com que parte da população, sobretudo aquela mais necessitada, consiga minimamente condições de sobrevivência. Esse tipo de recurso tende a ser canalizado diretamente para o consumo alimentar, higiene e limpeza das famílias, e pagamento de contas de consumo básicas para manutenção do lar", destacou o interlocutor da Sputnik Brasil.

O professor avalia que essa simples medida também deve aquecer a economia, até porque não é restrita à pessoas em situação emergencial, mas a todos os trabalhadores de uma forma ampla.

O governo vem atuando com mecanismos de incentivo à renda e manutenção de emprego com distribuição de recursos aos desempregados ou incapacitados de exercer suas funções durante a pandemia. O governo já anunciou que o auxílio deve continuar por mais dois meses, além dos três meses planejados inicialmente, mesmo que com valor reduzido.

O especialista acrescentou que "num outro front o governo vem atuando com as empresas, adiando o vencimento do recolhimento de tributos federais, exonerando folhas de pagamento, e uma medida provisória foi flexibilizando as relações de trabalho, permitindo a contratação temporária, suspensão do contrato de trabalho e férias".

O novo normal

Uma das grandes preocupações no mundo todo é o surgimento de uma segunda onda da COVID-19. Sinais alarmantes já soam em diversos países e as atenções estão voltadas para a China mais uma vez, onde a situação voltou a se agravar esta semana. Dessa forma, segundo Braga, ainda não conhecemos todas as implicações da COVID-19.

"Ninguém sabe ainda quais serão esses efeitos na forma real. Isso tanto pode ser mais uma doença que tem uma atuação importante, mas limitada, como você tem a dengue, a chikungunya no Brasil, e outras doenças virais. Mas essa também pode ser uma onda que afetará as nossas relações no dia a dia, que é o cenário que os especialistas apontam como mais provável", alertou o economista.

Gilberto Braga acredita que só será possível falar em uma normalização depois da confirmação de uma vacina para COVID-19 e a imunização de grande parcela da população, o que levará, no mínimo, dois anos.

"Isso determina que o funcionamento da economia será lento e gradual e iremos para o tal novo normal. Esse novo normal implica em diminuição de assentos nos aviões, menos viagens aéreas, limitação de pessoas em todos os locais públicos, limitação da capacidade de entretenimento, diminuição de programas em locais de grande afluência de público, shows, teatro, entretenimento e turismo de uma forma geral, e um reflexo geral muito ruim para a economia brasileira", afirmou o especialista.

Dessa forma, o governo já avisou que vai precisar reestruturar programas sociais como Bolsa Família, assim como está sendo feito no mundo todo.

"A gente pode dizer que o governo atuou corretamente. O que a gente não consegue ainda mensurar é se essas medidas foram e serão suficientes para que a economia possa ser retomada logo mais", concluiu.

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