A atitude da Austrália vem acompanhada de uma escalada de tensão comercial entre os dois países. Em abril, o governo australiano pediu aos membros da OMS (Organização Mundial da Saúde) que apoiassem uma investigação independente sobre a origem do novo coronavírus.
Em maio, o governo chinês suspendeu as exportações dos quatro principais exportadores australianos de carne bovina, alegando problemas de rotulagem.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a economista Anapaula Iacovino, especialista em agronegócio, professora da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), disse que a medida australiana pode beneficiar o setor agropecuário brasileiro.
"Não há a menor dúvida de que o Brasil pode se beneficiar dessa questão, o Brasil é um player importante nesse setor e já no ano passado, quando houve a questão da peste suína, as exportações brasileiras de carne suína para a China cresceram mais de 160%. Houve uma epidemia que abateu-se sobre o rebanho chinês e o Brasil no ano passado já se beneficiou, não só na questão da carne suína, mas na verdade nós aumentamos o volume de vendas para aquele país no ano passado. O Brasil tem todas as condições de se beneficiar, tanto em termos de volume exportado, quanto em termos de preço", disse à Sputnik Brasil.
Segundo a economista, o Brasil teria condições totais de arcar com o aumento de demanda.
"Preparo nós temos sim, o segmento brasileiro é bastante competitivo e tem plenas condições de dar conta, então em relação ao setor em si e sua capacidade de se reorganizar para atender essa mudança de conjuntura tem plenas condições", afirmou.
"A gente não pode perder de vista é que também o Brasil está atravessando essa pandemia, os números das vítimas seguem sendo crescentes, então a gente não pode perder de vista que assim como outros frigoríficos no mundo estão fechados porque os trabalhadores não têm condições de operar, o Brasil também pode ser vítima se não fizer um trabalho bem adequado de evitar que a oferta seja toda prejudicada", explicou.
Outro ponto destacado por Iacovino é o fato de que integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro já terem atacado a China e isso pode trazer consequências econômicas negativas para o Brasil.
"Representantes do governo já deram declarações desagradáveis sobre a China, então talvez a questão diplomática precisa ser cuidada, precisa ser vista com mais delicadeza, porque a China é um importantíssimo parceiro comercial do Brasil e tudo que nós não precisamos é de palavras impensadas que possam levar a um problema comercial", completou.