Notícias do Brasil

Ativista: representatividade é importante, mas negros buscam equidade no Brasil

Manifestantes voltaram às ruas nesta semana, em São Paulo, para exigir justiça após a morte de mais um jovem negro, possivelmente pela polícia, no Brasil.
Sputnik

A morte do ex-segurança negro George Floyd, nos Estados Unidos, no final do mês passado, por um policial branco, desencadeou uma onda de protestos antirracistas pelo mundo ao longo das últimas semanas, levando o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas a aprovar, nesta sexta-feira (19), a abertura de um inquérito para investigar o "racismo sistêmico" contra pessoas de ascendência africana.

No Brasil, as manifestações contra o preconceito racial e a violência policial inspiradas no movimento internacional tiveram como pano de fundo a morte do adolescente negro João Pedro, baleado em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, durante uma operação policial, uma semana antes de Floyd.

Quando muitos ainda choravam a morte do jovem de 14 anos, outro, de 15, voltou a chamar a atenção: Guilherme Silva Guedes, supostamente assassinado por um policial militar na Zona Sul de São Paulo no último domingo (14), levando a novos protestos. 

​"Talvez, quando esse movimento vem de fora para dentro, ele ganha uma amplitude, até porque essa amplitude foi mundial. Outros países também falaram sobre o caso do George Floyd. Por ter acontecido nos Estados Unidos, a visibilidade é muito maior do que aqui no Brasil. O que a gente não pode deixar acontecer é que esse acontecimento dessa mobilização antirracista vire uma moda, algo passageiro, e que a gente esqueça que, a cada 23 minutos, um jovem negro é morto no Brasil", afirma a jornalista Thaís Bernardes, editora-chefe do portal antirracista Notícia Preta.

Independentemente de as atuais manifestações antirracistas terem se originado em outro país, a ativista, ouvida em entrevista pela Sputnik Brasil, acredita que o importante é que essa mobilização sirva para a sociedade brasileira se questionar sobre "o que nós vamos fazer para que os casos de racismo diminuam no Brasil".

"Eu acho que o primeiro passo é entender que a gente precisa dessa redução e essa redução passa por uma consciência antirracista."

De acordo com Bernardes, embora muitos brasileiros estejam realmente discutindo mais abertamente o problema do racismo e da violência contra a população negra, isso não pode se resumir a uma "campanha de rede social". Para ela, é urgente a necessidade de políticas públicas para negros, moradores de comunidades e de periferias e também de "movimentos que a própria sociedade faz", como, por exemplo, quando personalidades brancas, famosas, cedem espaço e voz a pessoas negras. Mas não só.

"O que acontece é que, agora, a gente precisa ocupar lugares, lugares esses que, historicamente, foram negados para nós, pretos e periféricos. E isso passa pela política. A gente está em um ano de eleição. Então, eu acredito que a gente precise eleger muitos vereadores e prefeitos negros e negras. Porque a representatividade é importante, mas, além disso, nós queremos a equidade. Se somos 54% da população, é mais do que lógico que a gente esteja em 54% ou, pelo menos, metade dos espaços de poder." 

Criado em novembro de 2018, o portal Notícia Preta, segundo a editora, busca "tratar as pautas da mídia de uma forma racializada, tirando todos os estereótipos da população negra". 

Comentar