Segundo coluna de Jamil Chade, do UOL, a embaixada brasileira em Pequim enviou comunicado para o Itamaraty alertando que a China pode impor barreiras para a compra de carne procedente do Brasil.
"Na esteira do novo foco de COVID-19 em um mercado de alimentos nesta capital (Pequim), no dia 11/06/2020, as autoridades locais estão adotando medidas preventivas que poderão afetar as exportações brasileiras de produtos cárneos para o mercado chinês", afirma o texto da embaixada, segundo o colunista.
Nas duas últimas semanas, Pequim lida com um novo surto do coronavírus, que segundo relatos pode ter entrado no país por meio de salmão importado, detectado em uma tábua de cortar de um vendedor de um mercado de alimentos.
Em função disso, o país asiático reforçará a inspeção em alimentos importados, assim como iniciou uma campanha nacional de testagem em entregadores de alimentos e mercadorias.
Para Marcus Vinícius Freitas, professor-visitante de direito internacional público e de relações internacionais da Universidade de Relações Exteriores da China, em Pequim, determinados posicionamentos do governo do Brasil são prejudiciais ao país.
'Razão será de ordem sanitária'
"Os comentários desrespeitosos que alguns elementos do governo brasileiro têm feito em relação à China de fato causam preocupação. Sabemos que a China hoje é um país que deseja ter o respeito global e esse tipo de comentários não nos ajuda muito", disse o especialista.
No entanto, ele avalia que um veto às importações de carne brasileira não aconteceria por razões políticas.
"A principio, se houver qualquer tipo de banimento, a razão será de ordem sanitária", afirmou Freitas.
Ao mesmo tempo, ele considera que manter boas relações com a China pode ter um papel importante caso o país imponha barreiras alfandegárias à carne brasileira.
"O que vai de alguma forma modificar ou acelerar o processo vai ser justamente o nível de relacionamento bilateral que nós temos e que nós pretendemos ter no futuro. Então é importante enfatizar que o governo chinês olha e vai olhar para a importação de carne brasileira certamente refletindo o nível de relacionamento, e aquilo que nós podemos, no Brasil, de alguma forma fornecer como garantia de segurança sanitária", ponderou o professor.
'Preocupação que devemos ter'
O especialista diz ainda que um veto às importações pode vir a ocorrer, mas ressalta que é importante separar "alegações" de "confirmações da ciência", e que a transmissão através de alimentos precisa ser comprovada, o que ainda não ocorreu.
"Claro que, se for comprovado que a carne pode ser um elemento transmissor do coronavírus, certamente os chineses, com a preocupação quanto à alimentação, vão começar um processo de redução das importações. No caso do salmão e dos peixes importados, eles partiram para a retirada dos produtos dos supermercados. Essa é uma preocupação que nós devemos ter, porque isso de fato pode afetar outras carnes que vierem a ser entendidas como possíveis focos de transmissão", afirmou.
Na semana passada, por exemplo, a China suspendeu a importação de carne suína de uma unidade de frigorífico na Alemanha, após funcionários da fábrica terem sido infectados com o coronavírus.
Corrida sanitária
Marcus Vinicius Freitas explica que em um cenário de reforço das inspeções sanitárias por parte da China, vai se sobressair quem for mais ágil para atender as demandas de fiscalização do país asiático.
"Vai prevalecer aquele que correr. É importante que nosso agropecuarista esteja disposto a implementar mais rápido do que nossos concorrentes quaisquer medidas que possam favorecer o Brasil a prevalecer nesse mercado importante da economia do país", ponderou.
Segundo o especialista, hoje os maiores concorrentes do Brasil no mercado de carnes são Austrália e Estados Unidos. Mas, por "sorte", a relação de ambos com o gigante asiático está abalada.
"A grande vantagem do Brasil é que os dois enfrentam uma situação de deterioração no relacionamento com a China muito maior do que a nossa", afirmou.