Os investidores, liderados pela empresa norueguesa de seguros e pensões Storebrand Asset Management, enviaram cartas às embaixadas brasileiras em sete países - Noruega, Suécia, França, Dinamarca, Holanda, EUA e Reino Unido -, convocando reuniões e expressando preocupação de que o Brasil esteja revertendo as proteções ambientais, de acordo com um comunicado que incluía uma cópia da carta.
"A escalada do desmatamento nos últimos anos, combinada com relatos de um desmantelamento de políticas ambientais e de direitos humanos e órgãos de fiscalização, estão criando uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil", diz a carta.
Defensores ambientais culpam Bolsonaro por enfraquecer as proteções ambientais e causar um aumento no desmatamento e incêndios florestais desde que assumiu o cargo em 2019.
Já Bolsonaro argumentou que o Brasil é um modelo de conservação, ao exigir mais mineração e agricultura na região amazônica. Quando os incêndios na Amazônia ocorreram no ano passado, ele primeiro descartou dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que mostravam sua magnitude e depois demitiu o chefe da agência. Mais tarde, ele questionou improvavelmente se as ONGs ambientais haviam se incendiado para garantir doações.
O desmatamento cresceu 22% entre janeiro e maio em comparação com o mesmo período do ano passado, informou a agência de monitoramento espacial em 6 de junho.
Prejuízos atingirão o bolso se nada mudar
O CEO da Storebrand Asset Management, Jan Erik Saugestad, declarou que, enquanto as iniciativas anteriores focavam em pressionar as empresas brasileiras, esse novo esforço é voltado diretamente ao governo Bolsonaro.
As 25 empresas europeias que assinaram o contrato incluem a Nordea Asset Management da Noruega e a Church of England, que possui um fundo de pensão de 2,8 bilhões de libras (R$ 18,2 bilhões). A Legal & General Investment Management (LGIM) do Reino Unido está entre os maiores investidores com 1,2 trilhão de libras (R$ 7,7 trilhões) sob gestão.
As empresas norte-americanas Domini Impact Investment e Pax World Funds também assinaram a carta, enquanto a Fram Capital, com sede em São Paulo, é a única signatária brasileira.
Embora a Europa tenha sido tradicionalmente a crítica mais importante do desmatamento da Amazônia, a japonesa Sumitomo Mitsui Trust Asset Management assinou a carta, e o diretor sênior de sustentabilidade Seiji Kawazoe disse que espera que mais empresas japonesas enfrentem problemas com o desmatamento no futuro.
A carta não indica consequências caso o governo do Brasil não aja, mas sete empresas financeiras europeias disseram à agência Reuters na semana passada que poderiam se desfazer de participações ligadas ao Brasil se a destruição ambiental continuar. Muitas dessas empresas também assinaram a carta para embaixadas.
O que já se sabe é que, como resultado do histórico ambiental de Bolsonaro, alguns membros do Parlamento Europeu afirmaram que votariam contra a ratificação de um acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, que foi assinado em junho passado após duas décadas de negociação.