Segundo a Associação dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen), maio de 2020 foi mês com maior registro de óbitos feitos por cartórios na história do Brasil. Até a última segunda-feira (22), foram registradas 123.857 mortes em todo país, com 24.021 motivadas pela COVID-19.
De acordo com Arpen, o número de mortes em maio representa um aumento de 13,1% em relação ao mesmo período de 2019, quando os cartórios registraram 109.479 declarações de óbito no Brasil.
Sputnik Brasil conversou sobre o tema com o endocrinologista Sylvio Provenzano, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) e chefe do Serviço de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado (HSE), no Rio de Janeiro.
Para ele, segundo os dados da Arpen, se não fosse a pandemia de COVID-19, a tendência seria oposta e o índice de mortalidade teria diminuído.
"Dessas 124 mil mortes 24 mil foram devidas à COVID-19, doença que inexistia no passado, portanto, são 100 mil mortes em maio deste ano, contra 109 mil no ano passado", explicou.
As demais causas de morte diminuíram no total, desse modo, acrescentou o ex-presidente da Cremerj. O que não significa que o quadro seja positivo, no entanto.
"É possível que nos meses de junho e julho haja um aumento no número de casos em função da queda da temperatura. Sabidamente, as doenças virais respiratórias são mais frequentes nos meses de inverno [...] as pessoas tendem a ficar mais juntas em lugares fechados", ponderou o interlocutor da Sputnik Brasil.
O aumento de situações com grande presença de pessoas em ambientes fechados contraria todas as indicações médicas, afirmou Provenzano, tais como boa ventilação de ambientes, evitar aglomerações e respeitar distância de dois metros. O especialista também ressaltou a importância do uso das máscaras.
"O uso das máscaras é fundamental, sobretudo quando a pessoa sai às ruas. Esses são os cuidados que a gente deve ter para diminuir os riscos de contágio", destacou.
O médico lembrou também dos cuidados comuns a serem adotados durante as estações mais frias, como usar vestimentas apropriadas, manter uma alimentação equilibrada, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e de cigarros, pois doenças respiratórias podem agravar quadros cardiovasculares.
"A conexão existente entre doenças respiratórias e doenças cardiovasculares é que a dificuldade respiratória, por baixar o nível de oxigênio no sangue, pode, naquele paciente que já tem um comprometimento coronariano, vir a precipitar um quadro de infarto agudo do miocárdio. Esse é o risco aumentado pelas doenças respiratórias nesses pacientes", afirmou o entrevistado.
O endocrinologista lamentou que, em meio à pandemia, as pessoas têm evitado comparecer aos consultórios médicos e que alguns estariam abandonando seus tratamentos, com graves consequências para a saúde e das condições crônicas. Segundo Provenzano, isso deve "aumentar a mortalidade por outras causas nos meses que virão".
"No mês de abril, em São Paulo, aproximadamente 50 mil paulistanos deixaram de ter o diagnóstico de câncer confirmado pela impossibilidade de realização dos exames necessários", alertou o entrevistado.
Portanto, além do grande número de mortes associadas à COVID-19, "também haverá uma elevada quantidade de óbitos relacionados à outras condições", concluiu o doutor.