Pugnar por uma profunda cooperação entre os dois gigantes asiáticos tem sido um sonho de estadistas desde o tempo de Jawaharlal Nehru, o pai-fundador da Índia moderna.
O sonho da Chíndia
A ideia de a primeira e a terceira economias asiáticas poderem unir forças foi renovada no início dos anos 2000, quando o chinês Hu Jintao e o indiano Manmohan Singh governavam, refere a revista Forbes em artigo publicado hoje (30).
A Chíndia ainda estava na agenda de ambos os países em 2018, quando os líderes Xi Jinping da China e Narendra Modi da Índia mantiveram conversações prolongadas.
Mas tudo se desmoronou após o recente confronto fronteiriço mortal entre as duas nações na cordilheira do Himalaia, o primeiro desde 1962.
O escalar da tensão acabaria por afetar os laços econômicos no pior momento possível em meio a uma pandemia que alimenta uma recessão global.
Os governos chinês e indiano estão tentando se superar um ao outro com ameaças de restrições comerciais bilaterais e tarifas mais altas, com o analista da Forbes sugerindo que o premiê Modi deveria estar preocupado, isso sim, em como limitar os danos a longo prazo que se perspectivam para a economia da Índia.
Segundo a Forbes, Modi – um ardente nacionalista – está claramente perante um dilema, pois tem de mostrar uma atitude forte na disputa com a China para não prejudicar a base social de apoio ao seu partido Bharatiya Janata.
Política econômica em encruzilhada
A pandemia encontrou uma economia indiana já com problemas de fundo e está a explorando impiedosamente. Um deles é um balanço nacional fraco, esperando-se que a Índia contraia 5% neste ano fiscal, com o coronavírus perturbando o crescimento, a renda e a confiança das empresas.
Assim, não foi por acaso que a agência de classificação de riscos Fitch Ratings rebaixou o rating soberano da Índia para apenas um nível acima do status de lixo.
Com Modi, a Índia melhorou na tabela do índice do Banco Mundial quanto a facilidade em fazer negócios e tinha feito alguns progressos para se tornar uma potência industrial global que rivalizasse ou mesmo superasse a China, assinalou a Forbes.
Esta política baseava-se em grande parte no aumento da capacidade exportadora. Contudo, a guerra comercial entre os EUA e a China tem colocado os instintos protecionistas dos países na ordem do dia.
Por outro lado, a Índia não tem se mostrado capaz de atrair os milhares de fábricas gigantes que procuram sair da China, ao contrário do Vietnã.
Modi também não conseguiu aproveitar sua relação próxima com Trump de maneira a proteger a Índia do que está para vir. Espera-se que Trump redobre sua guerra comercial com a China para desviar a atenção do eleitorado de sua gestão da pandemia.
Para o analista da Forbes, é provável que a Índia se venha a arrepender das políticas protecionistas, que hoje podem ser populares aos olhos da opinião pública, mas que poderão colocar em perigo os projetos futuros da Índia em relação à China rival.