Naturais do Sul e Sudeste Asiático, as cobras peçonhentas da espécie Chrysopelea Paradisi conseguem saltar de galho em galho, de árvore em árvore e de árvores para solo.
A capacidade de planar no ar a distâncias de até 24 metros há muito que intriga e fascina os cientistas.
Estudando o fenômeno
Pesquisadores do Instituto Politécnico e Universidade Estadual da Virgínia (EUA), em estudo publicado na revista Nature, explicam como as cobras conseguem se locomover dessa forma, ondulando e planando no ar.
"É um movimento impressionante, já que parece que estão nadando no ar", explicou John J. Socha, coautor do estudo.
O objetivo do estudo era saber por que as cobras se moviam assim e se haveria alguma causa física subjacente.
Para esse efeito, os pesquisadores, liderados por Isaac J. Yeaton, colocaram sensores ao longo do corpo das cobras similares aos marcadores de rastreamento de movimento usados nos filmes para gerar imagens gráficas.
Em vídeo publicado pela Nature, Isaac J. Yeaton refere que o princípio é o mesmo usado em filmes de ação em Hollywood.
Para o efeito, foi montado um estúdio para induzir os saltos das serpentes, onde não faltaram galhos e árvores falsas.
Graças ao plano hollywoodiano, pesquisadores conseguiram capturar o movimento preciso do corpo de uma cobra durante o voo.
Com os dados recolhidos pelos marcadores, cientistas criaram um modelo matemático tridimensional de voo da cobra que incorpora efeitos aerodinâmicos e de inércia.
Em seguida, testando o movimento com e sem ondulação, perceberam que só o movimento ondulado permite que as cobras "flutuem".
Resultados
Sem a ondulação seria "apenas mais uma cobra caindo no chão", destaca John J. Socha, opinião corroborada pelo líder da equipe.
"Uma das conclusões deste estudo é que a ondulação aumenta a estabilidade das serpentes voadoras", afirmou Yeaton. "Sem a ondulação, as cobras ainda conseguem percorrer uma certa distância horizontal, mas acabam caindo [mais rápido]", concluiu.
Pesquisadores também descobriram um movimento vertical anteriormente desconhecido que ajuda as cobras a chegarem ao chão com segurança.
De acordo com o estudo, a ondulação gera uma combinação de movimentos horizontais e verticais que garantem um pouso no solo adequado e seguro.
As cobras são os únicos animais a usar a ondulação para se estabilizar no ar, adicionando uma singularidade a um voo já por si bizarro.
Pesquisadores avançam várias hipóteses ao fenômeno: escapar de predadores, perseguir presas ou simplesmente pular de árvore em árvore. Os motivos exatos permanecem sendo apurados.
"Este trabalho demonstra que a ondulação aérea em cobras tem uma função diferente dos usos conhecidos da ondulação em outros animais, e sugere um novo modelo de controle para robôs voadores dinâmicos", cita o estudo, salientando a importância da pesquisa para a robótica.