Segundo o portal chinês Sohu, a Rússia aumentou os investimentos em títulos públicos norte-americanos em quase 80%, para US$ 6,85 bilhões (R$ 36,35 bilhões), em abril de 2020. Dentre eles, US$ 2,84 bilhões (R$ 15,07 bilhões) foram investidos em títulos de curto prazo e US$ 4,01 bilhões (R$ 21,30 bilhões) em títulos de longo prazo.
O mesmo portal relata que o Banco Central da Rússia se limitou a afirmar que apenas foram tomadas decisões apropriadas com base nos mercados financeiros.
Ouro ou dívida pública?
Nos últimos anos, para se livrar das sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e reduzir sua dependência do dólar, a Rússia não tem utilizado suas reservas cambiais para comprar títulos públicos dos Estados Unidos, mas, sim, para adquirir ouro.
Em março deste ano, a Rússia possuía US$ 3,8 bilhões de dólares (R$ 20,16 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA. Comparando com os US$ 105 bilhões (R$ 557,13 bilhões) que detinha três anos antes, isso significa que a Rússia teria vendido cerca de 96% dos seus títulos de dívida dos EUA.
Nos últimos dois anos, a venda contínua da moeda norte-americana e a compra simultânea de ouro colocaram a Rússia entre os cinco maiores detentores de reservas de ouro do mundo. Segundo o portal, o volume total das reservas de ouro russas é de 73,9 milhões de onças (2.298 toneladas).
Falta de liquidez
Abril de 2020 foi um mês atípico no que diz respeito aos títulos de dívida dos EUA. China, Japão e Reino Unido, os três maiores detentores de títulos, juntos venderam mais de US$ 40 bilhões de dólares (R$ 212,24 bilhões) da dívida pública dos EUA sob pretexto de haver déficit de dólares.
Devido às expectativas pessimistas do mercado financeiro, causadas pela pandemia do novo coronavírus, todas as instituições do mundo tendem a vender ativos em dólares para aumentar a liquidez em moeda norte-americana, o que levou a sua valorização e consequente queda cambial de outras divisas.
Assim, esta venda não foi uma desdolarização, pelo contrário, teve como objetivo aumentar a liquidez em moeda norte-americana.
Segundo o Sohu, a opção entre investir em ouro ou em títulos de dívida pública prende-se com o comércio, pois comparando com o metal amarelo a liquidez da dívida do governo dos EUA é bem superior.
"Esta pode ser a explicação mais racional para a Rússia vender ouro e aumentar o investimento em papéis do governo dos EUA", escreve o Sohu.
Devido à forte queda nos preços do petróleo bruto, que resultou na redução das exportações de petróleo, a balança comercial externa ativa russa diminuiu 35,6% de janeiro a abril deste ano.
Em 12 de junho, as reservas de ouro e divisas da Rússia totalizavam US$ 570,8 bilhões (R$ 3,03 trilhões), enquanto o valor anterior era de US$ 565,2 bilhões (R$ 3,0 trilhões). Em abril, as reservas de ouro e divisas da Rússia aumentaram em US$ 126,08 bilhões (R$ 668,98 bilhões).
Apesar do ouro continuar em alta, cumprindo seu habitual papel de refúgio, a economia russa também tem de se basear no comércio exterior, onde a moeda americana continua sendo a moeda mundial.