O réptil foi batizado de Kongonaphon kely, que significa "caçador minúsculo de insetos", e era aproximadamente do tamanho de uma xícara de café.
Cientistas acreditam que a descoberta deste pequeno réptil fossilizado poderia ajudar a esclarecer a origem dos dinossauros e dos pterossauros, classificados entre os maiores animais terrestres e voadores da história da Terra.
Em estudo publicado na revista PNAS da Academia de Ciências dos Estados Unidos, cientistas dos EUA e de Madagascar relatam que o Kongonaphon kely media cerca de dez centímetros de altura, tendo sido encontrado em uma formação de cerca de 237 milhões de anos, do período Triássico.
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O estudo de seus dentes revelou que o Kongonaphon kely era um insetívoro. Dada sua dieta e tamanho pequeno, pesquisadores acreditam que ocupava nichos ecológicos diferentes de outros répteis, a maioria dos quais eram carnívoros.
Para os cientistas, o pequeno réptil pertencia ao antigo grupo Ornithodira, o ancestral comum de todos os dinossauros e pterossauros que mais tarde reinariam no planeta Terra.
De pequeno se fez grande
Embora este não seja o primeiro animal pequeno conhecido na raiz da árvore genealógica dos dinossauros, tais espécimes eram anteriormente considerados exceções à regra.
"Há uma percepção geral dos dinossauros como sendo gigantes", diz o paleontólogo Christian Kammerer, autor principal do estudo.
Contudo, os pesquisadores acreditam que as dimensões corporais dos animais que viveram antes da divergência dos dinossauros e pterossauros eram muito pequenas.
Isto significa que as gigantescas espécies dos períodos Jurássico e Cretáceo vieram de ancestrais extraordinariamente pequenos em comparação.
Mas como tais criaturas colossais evoluíram a partir de antepassados tão diminutos nunca foi claramente estabelecido, já que poucos exemplares da linhagem de Ornithodira foram achados e estudados. É por isso que a descoberta do Kongonaphon kely é tão importante.
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Kongonaphon kely é a menor espécie conhecida em uma família de dinossauromorfos primitivos chamada Lagerpetidae. Estes primeiros exemplares de Ornithodira caracterizam-se por serem pequenos, mas descobertas recentes como a deste minúsculo réptil têm levado os cientistas a teorizar que o fenômeno da pequenez não teria sido fruto do acaso.
E de grande se fez pequeno
A ciência acreditava anteriormente que todos os primeiros arcossauros – um grupo maior de répteis, que incluía aves, crocodilos, dinossauros não aviários e pterossauros – inicialmente possuíam aproximadamente o mesmo tamanho de corpo, começando posteriormente a aumentar sua envergadura.
Contudo, hoje, torna-se cada vez mais claro que, paralelamente à ampliação, alguns espécimes evoluíram para uma miniaturização.
"Analisando as mudanças no tamanho do corpo durante a evolução dos arcossauros, encontramos evidências irrefutáveis de que ele diminuiu drasticamente no início da linha de dinossauros e pterossauros", afirmou Kammerer.
"Embora dinossauros e gigantismo sejam praticamente sinônimos, uma análise da evolução do tamanho do corpo em dinossauros e outros arcossauros no contexto deste táxon e formas relacionadas mostra que os membros mais antigos do grupo podem ter sido menores do que se pensava anteriormente, e que um profundo evento de miniaturização ocorreu perto da base do tronco genealógico aviário", explica-se no estudo.
Pesquisadores sustentam sua teoria na forma dos dentes minúsculos deste caçador de insetos e abrasões sem caroço neles, consistentes em uma dieta de insetos de casca dura.
É assim possível que estes pequenos dinossauros e antepassados do pterossauro tenham adaptado suas pequenas estruturas para "invadir zonas de recursos não anteriormente ocupadas por arcossauros" como uma espécie de vantagem evolucionária, referem os cientistas.
Assim, a "miniaturização", a opção por abandonar a carne – onde a competição era grande – e seguir o rumo de se tornar insetívoro permitiram a estes pequenos antepassados dos dinossauros e pterossauros ocupar um nicho adequado para sua evolução.
Ao fazer isso, também é possível que a mudança para este pequeno corpo tenha ajudado o Kongonaphon kely e seus pares de arcossauros a desbloquear e desenvolver outros traços que continuariam se tornando um pilar da sobrevivência de seus descendentes: inovações no movimento bípede, penugem para aquecer pequenos corpos e até mesmo o início do voo, sugerem os pesquisadores.