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'Amor' do Brasil pelos EUA 'não é correspondido' e não traz benefícios, diz especialista

A opção da política externa brasileira de privilegiar os EUA em "detrimento de outros países" é uma "aposta equivocada" que não traz nenhum "benefício", disse especialista à Sputnik Brasil.
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Segundo Carlos Gustavo Poggio, professor de relações internacionais da FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), os fatos mostram que o Brasil vive uma relação de "amor" não correspondido com os Estados Unidos. 

Um exemplo recente foi declaração do secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, sobre as restrições de viagens para os Estados Unidos. Nesta quarta-feira (8), o funcionário afirmou que a relação dos EUA com o Brasil não é diferente da estabelecida com nenhum outro país quando o assunto são as proibições de entrada em território norte-americano durante a pandemia do coronavírus. 

"A declaração de Pompeo deixa claro de que se há algum tipo de relação especial com os Estados Unidos, esta é uma relação não correspondida. O Brasil declara seu amor aos Estados Unidos e não é correspondido de volta pelo país do presidente Donald Trump", disse Poggio. 

No mês passado, os Estados Unidos proibiram a entrada no território norte-americano de pessoas que tenham estado no Brasil nos últimos 14 dias anteriores à viagem. A União Europeia impôs medida semelhante recentemente. A razão são os altos índices de contaminação por coronavírus no Brasil.

Preocupação é apenas com reeleição

O professor, especialista nas relações bilaterais entre EUA e Brasil, lembra ainda que as eleições presidenciais norte-americanas vão ocorrer em novembro, portanto Trump "não tem nenhuma preocupação que não seja sua própria reeleição". 

"Se para isso ele precisa, inclusive, citar o Brasil como mau exemplo de combate à pandemia, que é o que ele tem feito, para em comparação dizer que os Estados Unidos estão em situação melhor, ele vai fazer. O que interessa para ele é sua reeleição, e a agenda bilateral entre Estados Unidos e Brasil é algo que não tem muita relevância nas questões de política externa de Trump nesse momento", opinou. 

O especialista argumenta que se aproximar dos EUA, um importante parceiro do Brasil, e eventualmente formalizar algum tipo de acordo comercial, é algo natural e defensável. O que não pode ocorrer, segundo o professor, é que isso seja feito em detrimento da relação com outros países. 

"Bolsonaro se aproxima dos Estados Unidos, se aproxima da administração Trump, e sai criticando a torto e a direito uma série de outros aliados do Brasil, como, por exemplo, a Argentina, a França e os chineses, que são nossos principais parceiros comerciais", ponderou Poggio. 

Aproximação com Trump, não com os EUA

Segundo o professor, a escolha brasileira é "frágil" e pode "desmoronar rapidamente", não trazendo nenhum "benefício" para o Brasil. O especialista ressalta ainda que a aproximação feita não é com o estado norte-americano, mas com a administração Trump. 

"Essa é uma aposta equivocada, e vai se mostrar muito mais equivocada caso o Trump perca as eleições. A escolha da administração Bolsonaro não foi por uma aproximação com os Estados Unidos, mas uma aproximação com a administração Trump, com a pessoa do Donald Trump, e isso não é suficiente para uma aproximação entre países", disse. 

Para comprovar sua tese, Poggio relembra que 24 membros da Comissão de Orçamento e Assuntos Tributários da Câmara de Representantes dos EUA assinaram carta, endereçada ao representante comercial do país, Robert Lighthizer, afirmando que o órgão era contrário a qualquer tipo de acordo com o governo Bolsonaro, que, segundo o grupo, demonstra falta de compromisso com os direitos humanos.

​"Relação de amizade e de pessoas não é relação entre países. A gente vê isso muito claramente no momento em que democratas do Congresso norte-americano se manifestam contrários a um acordo com o Brasil, um acordo comercial ou qualquer outro tipo de acordo. Porque a administração Bolsonaro não fez uma aproximação com os Estados Unidos como um todo, com a sociedade norte-americana, com o Congresso. Apostou todas as suas fichas na dita boa relação com Donald Trump", disse Carlos Gustavo Poggio.
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