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COVID-19: especialista comenta possibilidade de encurtar testes da vacina e 'imunidade de rebanho'

O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, declarou na última terça-feira (21) que o Brasil pode dar início à fabricação da vacina contra a COVID-19 até janeiro de 2021.
Sputnik

De acordo com ele, o Ministério da Saúde vem discutindo a transferência de recursos para a produção da vacina, através da "transferência de tecnologia e o recebimento do insumo".

O biólogo e professor de virologia do departamento de microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), Paolo Zanotto, explicou que o desenvolvimento clínico da vacina é um processo de três fases.

"Durante a fase 1, um pequeno grupo de pessoas recebe a vacina experimental; na fase 2, o estudo clínico é expandido e a vacina é dada a pessoas que têm características, como idade e saúde física, semelhantes àquelas para quais a nova vacina está sendo destinada; e na fase 3 a vacina é ministrada a milhares de pessoas testadas com eficácia e segurança", disse.

De acordo com ele, é possível encurtar o tempo de duração deste processo de fases de testes da vacina, mas há um problema que quando se encurta muito os ciclos de desenvolvimento gera uma estimativa não muito boa de segurança da vacina e outros parâmetros.

A vacina de Oxford e a SinoVac, da China, já estão sendo testadas em voluntários no Brasil em ensaios clínicos de fase 3, que é a última etapa antes de registrar a vacina junto a autoridades regulatórias.

Ao comentar a declaração do ministro interino da Saúde, Zanotto destacou que a fala de Pazuello não se refere a uma plataforma desenvolvida totalmente no Brasil, mas diz respeito à "internalização no Brasil da tecnologia da SinoVac, que é essa vacina chinesa, feita com vírus inativado, e eventualmente também a vacina AstraZeneca".

"Ele [o ministro] se refere também a uma forma vacinal que está sendo desenvolvida pela Moderna, nos EUA, que aí implicaria em uma tecnologia que o Brasil não produz vacina usando vacina de DNA [...] e isso implicaria na compra da vacina já pronta", acrescentou.

Imunidade de rebanho

Ao comentar as perspectivas para que a pandemia seja controlada no Brasil, o especialista disse que o país tem por volta de dois milhões de pessoas que teriam sido infectadas, mas que esse número pode ser uma subestimativa enorme, uma vez que as testagens sorológicas não estão acontecendo em grande quantidade.

"Se a gente não sabe quantas pessoas de fato foram infectadas, é difícil entender quando é que a população brasileira vai chegar em um ponto que ela adquira o que seria uma imunidade de rebanho. Esse número é de quantas pessoas já foram infectadas, esse número depende do patógeno, e depende da densidade populacional, depende de vários aspectos importantes que não podem ser transportados de um patógeno para outro, de um país pra outro", explicou.

O especialista observou que a imunidade de rebanho é de "quando a gente tiver talvez entre 60-70% das pessoas que já tiverem sido infectadas e conseguiram eliminar o vírus, mas tem uma resposta anticórpica boa contra o vírus". Com isso, o vírus teria "muita dificuldade de passar de pessoa para pessoa, porque ele não vai achar pessoas que são suscetíveis".

"Então a questão da imunidade de rebanho é importantíssima que seja bem definida, porque é o ponto no qual geralmente o surto colapsa. E a imunidade de rebanho pode ser incentivada, promovida pelo uso de vacinas profilácticas, ou de também de profilaxia, usando fármacos, e assim por diante", afirmou.

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