Além de pandemia, outros fatores explicam fuga de investimentos do Brasil, diz economista

A fuga recorde de investimentos do país no segundo semestre de 2020 teve como principal "vetor" a pandemia, mas outros fatores também explicam a debandada, disse especialista à Sputnik Brasil.
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Segundo o Banco Central anunciou na terça-feira (28), a fuga de investimentos do mercado de ações e títulos públicos do Brasil representou US$ 31,3 bilhões (cerca de R$ 161,6 bilhões) no segundo semestre do ano. Apenas em março, a debandada foi de US$ 22,2 bilhões (aproximadamente R$ 114,6 bilhões). 

Trata-se da maior saída de investimentos do país desde 1995, quando se iniciou série histórica. O Banco Central, no entanto, argumentou que a principal razão para a fuga foram as incertezas causadas pela pandemia da COVID-19, que, segundo a instituição, alcançou seu pico em março no Brasil. 

O economista-chefe do Banco Digital Modalmais, Alvaro Bandeira, concorda com a alegação do Banco Central. Mas apenas em parte. Ele cita outros fatores que explicam a debandada de recursos, como, segundo ele, a crise política e a necessidade de reformas

'Crise política que atravessamos'

"Certamente a pandemia foi o grande vetor que trouxe de volta a aversão ao risco no cenário mundial. E temos também alguns outros fatores relacionados à crise política que atravessamos, principalmente nesse último trimestre do semestre, que trouxe mais constrangimentos para os investidores", disse o especialista em investimentos e análise de risco. 

Bandeira cita, por exemplo, o fato de o Brasil ter entrado na crise do coronavírus com as "finanças bastante desequilibradas". 

"Só para dar uma ideia, o nível de endividamento estava em 75% do produto interno bruto. Vamos sair dessa crise com alguma coisa próxima a 95% ou até 100% do PIB, o que para um país emergente é muito elevado", ponderou. 

Por outro lado, Bandeira diz que o Brasil possui uma liquidez maior do que outras nações estrangeiras, ou seja, é mais simples retirar investimentos do país. 

"Outro fator é que aqui temos maior liquidez comparativamente a outros mercados de países emergentes, e acabamos sendo mais penalizados, porque a saída rápida, a porta, acaba sendo o Brasil, e depois se ajustam as carteiras dos investidores no que diz respeito aos países emergentes", avaliou o economista. 

Agenda de reformas e privatizações

Para se tornar novamente atrativo aos investimentos, Bandeira diz que o Brasil precisa retomar urgentemente a agenda de reformas, privatizações e diminuição do tamanho do Estado. Fatores que, para ele, são "absolutamente essenciais". Entre as dificuldades para se fazer isso, o economista cita a "a fraca base de apoio do presidente para tomar medidas". Além disso, menciona a falta de compromisso ambiental do governo, o que afugenta investidores.

"O Brasil tem muitas incertezas no que diz respeito ao cenário pós-crise. Vamos ter que saber exatamente endereçar o que é preciso fazer de reformas. São várias as reformas que o Brasil precisa fazer, vários os ajustes: independência do Banco Central, reduzir o tamanho do Estado, privatizações, tudo isso precisa ser endereçado rapidamente para que se consiga atrair capitais do exterior e também de investidores locais", afirmou Bandeira. 

Segurança jurídica

Para que as mudanças engrenem, ele diz que é fundamental a união entre os três poderes, para dar credibilidade e "segurança jurídica". Segundo Bandeira, a movimentação do governo para acelerar a reforma tributária é um bom sinal. 

"A reforma tributária que começa a ser tocada pelo governo acaba sendo bastante importante, porque sinaliza que o governo vai se manter na busca de reformas, esse é o dado importante. Juntamos a isso, como eu já disse, privatizações, necessidade de criar marcos regulatórios setoriais e, principalmente, dar segurança jurídica para investimentos, que são investimentos de retorno de longo prazo, 30, 40 anos", disse Alvaro Bandeira.
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