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Reabrir fronteiras do Brasil é medida 'completamente infundada', diz especialista

A medida do governo federal de reabrir as fronteiras aéreas do país para atrair turistas e aquecer economia é "completamente infundada e descolada da realidade", disse especialista à Sputnik Brasil.
Sputnik

Nesta quarta-feira (29), portaria publicada no Diário Oficial da União (DOU) abriu o espaço aéreo para estrangeiros, antes limitado a uma série de condições. A partir de agora, o viajante que estiver em visita ao país para estadia de até 90 dias terá que apresentar comprovante de aquisição de seguro de saúde válido no Brasil, com cobertura para todo o período da viagem.

Para Mariana Aldrigui, professora de turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP (Universidade de São Paulo), a medida demonstra despreparo do governo e não terá nenhum impacto em razão da pandemia da COVID-19, que manterá os turistas afastados do Brasil. 

"Parte do pressuposto de que os turistas que eventualmente viessem ao Brasil seriam completamente desinformados e desligados da realidade", afirmou a presidente do Conselho de Turismo da Fecomércio de São Paulo.

Além disso, a especialista ressalta que, diante de crises como a do coronavírus, a retomada de viagens internacionais só acontece numa fase posterior.

Turismo em 2020 será 'ínfimo'

"Em todas as análises feitas por quaisquer institutos de pesquisa, turismo ou saúde pública, o que se percebe é que os turistas retomam [primeiro] atividades de alcance regional, que possam preferencialmente ser feitas de carro, ou, no caso da comunidade europeia, em voos curtos e baratos. Porque, na hipótese de cancelamento, ou há um reembolso previsto ou uma remarcação fácil, algo administrável e não tão significativo em perdas de recursos como uma viagem internacional", avaliou a professora.  

Para Aldrigui, o fluxo de turistas para o Brasil em 2020 será "ínfimo".  

"O volume de turistas estrangeiros no Brasil sempre foi muito baixo, e a tendência é de que ele seja ínfimo neste ano, com exceção feita, obviamente, daqueles que precisam vir por questões de trabalho, que tenham familiares ou que tenham algum tipo de compromisso no Brasil. Mas claro que isso não implica em lazer", disse a especialista. 

​A crise, no entanto, não se limita ao Brasil e afeta o mundo todo, já que a pandemia obrigou vários países a fecharem suas fronteiras para evitar a disseminação do vírus. No Brasil, por exemplo, a medida foi tomada em 27 de março. Segundo Aldrigui, nem mesmo os atentados terroristas de 11 de setembro e qualquer uma das crises econômicas recentes tiveram um impacto tão grande. 

'Efeito devastador'

"Representantes do setor que têm competência para falar têm sido unânimes em dizer que foi o pior ano da história do turismo como um todo", afirmou. 

Para ela, o efeito da pandemia está sendo devastador, pois atinge várias áreas, desde empresas aéreas até trabalhadores informais que tiram seu sustento do turismo. A principal festa de Réveillon do Brasil, no Rio de Janeiro, foi cancelada. Há ainda a possibilidade de adiamento do Carnaval.

"Nada se compara ao efeito devastador dessa crise. Porque começa nas viagens internacionais de avião, mas vai descendo e afetando as comunidades. A gente não consegue falar em volume de desemprego dos informais, mas os trabalhadores informais que tinham no turismo sua renda total ou o complemento de suas rendas, eles não têm de onde tirar", lamentou. 

'Pessoas mais capazes'

A professora critica duramente a atuação do governo brasileiro no turismo, que para ela está sendo "extremamente negligenciado" e está "nas mãos de pessoas que não entendem como ele funciona", o que pode fazer com que o Brasil seja "alvo de vergonha internacional". 

"Já passou da hora de a gente ter pessoas mais capazes tratando de turismo e advogando pelo turismo nas conversas com a gestão da saúde e gestão econômica. É como se o turismo fosse algo de outro planeta, completamente descolado da realidade. Dá a impressão de que se algum governante disser que pode abrir tudo, o turista vem", disse Mariana Aldrigui.
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