Sendo as mais afetadas pela crise desencadeada pela pandemia da COVID-19, as pequenas empresas do Brasil vêm lutando como podem para sobreviver em meio às incertezas que tomaram conta do país nos últimos meses. E, com problemas para conseguir crédito, as dificuldades enfrentadas por esses empresários podem colocar em risco o processo de retomada da economia brasileira.
O diagnóstico faz parte de um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) na semana passada, que mostrou um baixo índice de confiança entre os empresários de pequeno porte, fraca recuperação da demanda, dificuldade para conseguir crédito e perspectiva de normalização, por boa parte deles, apenas para 2021.
"O governo tem feito algumas medidas para essas pequenas e médias empresas. Mas o grande problema, de uma forma ampla, é que quem é pequeno não tem toda aquela papelada em dia, todas as certidões, os 'nada consta', essas questões de cartório", diz em entrevista à Sputnik Brasil o economista Gilberto Braga, professor do Ibmec-Rio e da Fundação Dom Cabral. "Então, por uma questão burocrática, há uma certa dificuldade no acesso às linhas de créditos, por conta dessa documentação que os pequenos e médios não conseguem atender."
Entre as medidas mais recentes tomadas pela administração federal para tentar melhorar esse cenário está a regulamentação do Programa de Capital de Giro para Preservação de Empresas (CGPE), com o qual se espera destravar até R$ 120 bilhões em crédito para micro, pequenos e médios empresários a condições melhores do que as encontradas em geral no mercado.
Com esse programa, o Banco Central, na prática, amplia a base de capital dos bancos para que eles possam correr mais riscos ao conceder créditos para empresas de menor porte.
"Esse tipo de atividade de empreendedorismo, das pequenas e médias empresas, elas, normalmente, se dedicam à prestação de serviços a pequenos comércios e são grandes contratadores de mão de obra. Embora não sejam contratantes como uma indústria, que pode colocar uma quantidade imensa de empregados, mas são negócios que contratam um, dois, três, cinco, até dez funcionários e, assim, geram emprego na economia, fazem o dinheiro circular. As pessoas gastam, as pessoas pagam tributos, os governos arrecadam, então, fazem a roda econômica andar para a frente", afirma Braga.
Segundo o especialista, a flexibilização das condições para concessão de crédito é essencial para aumentar as chances de sobrevivência desses negócios de menor porte. No entanto, com a decisão pela concessão a cargo dos bancos, o índice de resposta negativa é muito alto, o que leva muitos desses negócios a quebrarem antes de a questão ser resolvida.
"Da mesma forma, a crise gera oportunidades para novos negócios", pondera o especialista, argumentando sobre a possibilidade de haver um lado menos sombrio da crise. "Então, o governo poderia ter algum tipo de incentivo exatamente para estimular, para facilitar essa organização, para que esses pequenos negócios também pudessem surgir em momentos de pandemia como esse que estamos vivendo."
Na passagem de junho para julho, o indicador de incerteza da economia recuou 9,9 pontos. Essa foi a terceira queda mensal seguida do indicador da Fundação Getulio Vargas (FGV), mas, segundo informou o G1 nesta sexta-feira (31), os recuos ainda não foram suficientes para recuperar as perdas provocadas pela pandemia da COVID-19.
O último indicador de incerteza, em 163,7 pontos, ainda está muito acima do recorde registrado antes do surto do coronavírus, que ocorreu em setembro de 2015, quando o índice chegou a 136,8 pontos.